terça-feira, 9 de agosto de 2016

O BOLA DE BERLIM




Tinha-se algum apreço por ele. Melhor, depois do muito mau, o que viesse seria sempre menos mau, o que era uma linha de raciocínio perfeitamente plausível. A qualidade baixou tanto com os anteriores, que um assim-assim seria suficiente para nos exultar, rebolarmos na relva de alegria.

A sua bonomia, estudada, acabaria por quebrar o ressabio, e algum êxito mais vistoso, levar a ganhar estima e o crédito.

É certo que tudo começou de uma forma atípica, não se ganhou, e tomou-se o poder através de uma artimanha circense – de qualidade é certo, ao nível do que melhor se vê lá fora, mas ainda assim uma artimanha – o que e apesar de estarmos fartos da prepotência dos outros, não foi bonito e deixa um travo a desconfiança.

Logo a seguir vem aquela coisa das horas para a Função Pública, quando o que se devia implementar era uma verdadeira disciplina da eficácia do trabalho. Implementa hoje, ou amanhã, hoje para uns, os outros vai-se ver amanhã. Amadorismo.

Depois a guerra das escolas, quando ninguém olha para os currículos desadequados às realidades do mundo, os lobbies dos livros escolares e os preços de assalto à mão armada que os pais sofrem todos os anos, o que interessa é transformar um assunto mínimo numa quase guerra santa entre o Estado laico e a poderosa Igreja.

As poucas mais gravíssimas falhas no sistema de saúde – as que se sabem e não se abafam nos corporativismos – com mortes impunes e sem que se prestem contas (os resultados das Comissões são sempre nebulosos e fora de tempo e contexto). O contribuinte vai a uma qualquer urgência deste  país e é atendido (a desoras) por um jovem médico interno , que está ali quase abandonado a pedir que alguém também a ele, o venha salvar.

Mais recentemente, com os calores já a apertarem as constantes idas e vindas dos governantes para assistirem aos jogos da seleção nacional de futebol. Uns a pagarem do bolso inesgotável (para alguns) do Estado, outros a serem pagos por outros. Não há conflito de interesses nem inadequação desproporcionada ou lá o que isso for. Tudo na mesma, não há responsabilização de quem manda (ao menos uma vez, para servir de exemplo?), quem gozou desses prazeres desconhece o significado da palavra ética, que podia só ser vergonha. Era suficiente mas não a têm.

Por último (já que não se sabe o que nos espera e o ano ainda tem mais um terço) os eternos incêndios. Todos os anos cada vez mais, todos os anos eles a saberem que no ano seguinte vai ser assim ou pior, e nada. Não há multas pesadíssimas, não se imputa crime ao proprietário relapso, os meios são insuficientes, não se planeia o futuro e o futuro, a continuar assim, vai ser sem árvores e em calamidade ecológica irreversível: os que vierem a seguir que se amanhem para viverem num mundo assim.

É este e para já o balanço, pouco promissor, pouco esperançoso, mas não faz mal ninguém quer saber, as praias, de Algés à Quinta do Lago estão inundadas de fiscais atrás da bola de Berlim. Isso é que é um escândalo, porem esses desgraçados sem condições, sem chapéus-de-sol e protector solar, à cata das imparidades e das mafias de leste que dominam o negócio.

Boas férias.

1 comentário:

  1. O estar interessado em Berlim, não deixa de ser, da parte do governo, uma boa atitude. Conquanto, o que é importante na capital da Alemanha são as decisões do BCE ou da Sra Merkel e não as bolas que se vendem nas praias lusas. Há aqui falta de visão! Ora bolas!!!

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