quinta-feira, 11 de agosto de 2016

NÃO, NÃO ESTOU VELHO

Não, não levo uma vida de velho. Leio, produzo, sou um poeta de café na cidade de Braga. Não preciso de viajar para aqui e para ali, nem de ir para a praia para junto da multidão, bastam-me as minhas viagens mentais. Além do mais, sou um homem livre, afasto-me o mais possível da economia. Não, não preciso de ir a Paris nem a Barcelona para ser feliz. Basta-me ficar em Braga e ler uns livros ou beber uns copos. Porque Braga é a minha cidade, a cidade que me acolheu, nunca o esquecerei. Entretanto, os imbecis vão dizendo baboseiras na televisão. Gente imbecil que canta, gente imbecil que ouve. Ai, Jaime. Se estivesses aqui. Como em outros Verões. Agora não estou nas Enguardas mas na Ponte, nas proximidades da rua Carlos Teixeira, casa da Gotucha. Vou sendo um dos melhores poetas deste país. Alguém o disse. Modéstia à parte. Mas, de facto, não suporto estes atrasados mentais. Eu subi. Eu abandonei o rebanho. Não os suporto. Não sou democrata. Sou dos filósofos-poetas. 40 anos de música, diz o pimba. 40 anos de merda. E lá vêm as gajas boas. Que grande festa! Ah, eu deveria ser rei. E lá vem o Baião. E lá vem o cabrão. 760 20 60 20. E lá vem o prémio. Nossa senhora. Poupem-me. Venha a Márcia. Que gajos tão limitados que nos vendem. Que idiotice. Antes beber. Isto bateu mesmo no fundo. Basta ter como Presidente o Marcelo. Pão e circo. Tivesse eu guerrilheiros no Sameiro. É tudo tão ridículo, tão absurdo. Antes escrever. Se, ao menos, a gaja do café fosse mais bonita. Enfim, não se pode ter tudo. Para quê viajar se posso permanecer aqui? Para quê ir atrás da manada? Tens uma boa vida, Pedro. Dizes o que queres, fazes o que queres, escreves o que queres. O que é que te interessam as férias em família em Benidorm? O que é que te interessam as multidões? És um senhor. Mas ainda não chegou a hora de regressares à montanha com Zaratustra. Ainda tens de permanecer na cidade. És o homem da cidade. Bebes na cidade. Escreves na cidade. A mente explode. Alucina. Maria Paz. Maria Francisca. Apetece ser louco. Apetece dizer coisas. Lembro-me de ti, Jaime. Já partiste. Bebias. Eu agora, infelizmente, tenho de me moderar. A vida, sem àlcool, é uma merda. Digam o que disserem. Olha o que nos vendem? A podridão. A hipocrisia. Historiazinhas. Historietas. Só à bomba! Pudesse eu, ao menos, beber até ao fim. Sou o grande maldito. Não estou velho, Gotucha. Reino sobre a Terra. Porque os deixais viver a nossa vida? Não conto convosco. Não vos amo. Eu queria transpor a teoria para a prática. Sou escritor mas também sou revolucionário. Só já não posso ir de copo em copo. 
Dionisos. O Paraíso. A Festa permanente. Sou Rimbaud. Sou Baudelaire. Velho, eu? Tenham paciência. Eu agora reino. Eu não estou trôpego. Eu bebo como tu, Jaime. Eu sou teu irmão, Jaime. O poeta bêbado, Jaime. A propaganda, Jaime. O Feira Nova, Jaime. Os incêndios, Jaime. O país arde, Jaime. A Maria Francisca, Jaime. Não a conheceste, Jaime. O país a arder e eu a beber. Ah!Ah!

2 comentários:

  1. O nosso Amigo Pedro Ribeiro, cujos escritos merecem toda a nossa atenção e respeito pela humanidade que deles resume, está um pouco na linha do Luiz Pacheco, que tive a oportunidade de, em Montijo, desconversar com ele raras vezes, porque, tal como o Pedro, são seres incomuns. Depois duma forte interiorização, concluem que este tipo de organização social pouco ou nada vale e que não há cura possível para a epidemia que alastra na caserna, pois os "curandeiros" não estão à altura do que se lhes pede. O facto, a verdade, é que o Luiz Pacheco tinha razão e o Pedro Ribeiro continua na mesma senda. Um abraço fraterno e lusitano.

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  2. obrigado, abraço fraterno e lusitano, amigo Joaquim.

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