Após um longo periodo de acalmia, estabilidade
e consolidação do regime presidido por Antonio Oliveira Salazar, entra-se na
década de sessenta do seculo vinte, o pronuncio do fim.
Publicas virtudes, vícios privados é um lema
que todos procuram manter, mas as mentalidades dão sinais de mudança, num país
com elevadas taxas de pobreza e analfabetismo, a maior parte da população não
tem acesso aos meios de comunicação social, sendo estes condicionados pelo
governo.
De qualquer forma alguns acontecimentos não
passam despercebidos:
-O sequestro do navio de passageiros portugues
"Santa Maria", (22/1/1961).
-O inicio da guerra colonial, (Angola,
4/2/1961).
-A
União indiana invade e anexa a India portuguesa, (Goa, Damão e Diu,
(12/1961).
-O assalto ao quartel de Beja, (31/12/1961).
-O assassinato do presidente americano John Fitzgerald
Kennedy, (22/11/1963).
-Inauguração do aeroporto de Faro, (11/7/1965).
-Inauguração da ponte Salazar, (Almada, Lisboa,
(6/8/1966).
-Visita do papa Paulo VI a Portugal,
(13/5/1967).
-Primeira viagem tripulada à Lua, (1969).
-A contestação ao regime aumenta no meio
universitário, curiosamente frequentado maioritariamente pelos filhos da
sociedade rica que o apoia.
-Em 27/7/1970 morre Antonio Oliveira Salazar,
só a morte o venceu, o patriarca Manuel Gonçalves Cerejeira, dirigente da
igreja católica portuguesa e incondicional adepto do regime resigna
(10/5/1971), o regime fica órfão dos seus maiores guardiões, estremece,
agoniza, vislumbra-se o fim.
-É publicada a obra "cartas
portuguesas" da autoria de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria
Velho da Costa, (4/1972),
uma pedrada no charco no panorama social e
cultural portugues.
-A instabilidade militar aumenta, a oposição à
guerra colonial ganha maior acutilancia a seguir à publicação do livro
"Portugal e o futuro" da autoria do general Antonio de Spínola
(23/3/1973).
-25 de abril de 1974.
Revolução ou golpe de estado, como queira, para
alegria de uns e tristeza de outros, altera substancialmente a sociedade
portuguesa. As alterações legislativas,
mentais e comportamentais são notórias, por vezes drásticas, tudo é discutido,
questionado, sintomático dos novos tempos é o numero de divórcios nos dois anos
seguintes, o mais alto até à atualidade, um espelho da moral podre de outrora.
A mudança do regime
ditatorial para democrático provocou mudanças significativas nas décadas
seguintes.
Eis algumas das mais
marcantes:
-As independencias das
colonias originam o regresso de centenas de milhares de portugueses, pondo fim
a cerca de quinhentos anos de colonialismo, uma das paginas mais sanguinárias e
execráveis da historia, (1974 a 1976).
-O desemprego aumenta
vertiginosamente.
-O consumo de
estupefacientes dissemina-se em todas as classes sociais.
-É estipulado o salário
mínimo nacional.
-Os setores industrial
e agrícola são seriamente afetados com as novas opções governativas, a
capacidade produtiva diminui drasticamente.
-Em 25/11/1975 o
tenente coronel Antonio Ramalho Eanes chefia um movimento militar, repõe a
estabilidade governativa e inicia-se a consolidação democrática.
-Entra em vigor a
constituição da republica portuguesa da era democrática, considerada na época
uma das mais avançadas do mundo no setor social, (25/4/1976).
-Finalmente as mulheres
adquirem direitos iguais aos homens, entram no ultimo reduto predominantemente
masculino, a politica.
-Na televisão é exibido
o filme "angustia para o jantar", baseado na obra do escritor Luis
Sttau Monteiro, em que pela primeira vez aparece o nu integral (1975).
-No cinema o filme
"o ultimo tango em Paris", bate recorde de bilheteira em Portugal.
-É criado o serviço
nacional de saúde (1979).
-É aumentada a
escolaridade mínima obrigatoria.
-A republica portuguesa
entra na comunidade económica europeia (c.e.e.,1986).
-Concluída e aberta ao
transito a autoestrada do norte (Lisboa Porto A1, 1991).
-Concluída e aberta ao
transito a autoestrada do sul (Lisboa Albufeira A2, 2002).
-Fim de um dos maiores símbolos
da soberania nacional (escudo, 2002), a moeda portuguesa é substituída pela
moeda euro.
-É aprovado, promulgado
e publicado no diário da republica portuguesa o acordo ortográfico de 1990
(21/7/2008).
-Aprovada a
despenalização da interrupção voluntaria da gravidez (2007).
-Torna-se obrigatoria a
aprendizagem da língua inglesa nos primeiros anos de ensino.
-Aprovado o casamento
entre pessoas do mesmo sexo.
-O pais definha ,assiste-se
à destruição do aparelho produtivo, empresas e marcas que foram o orgulho
nacional, vão à falencia ou são compradas por estrangeiros, a agricultura e as
pescas tornam-se insignificantes, a balança de transações comerciais é
sistematicamente deficitária, a inflação aumenta, o défice é cronicamente
elevado, a divida nacional aumenta exponencialmente, acontece novamente o
descalabro das finanças publicas, sendo necessário recorrer mais uma vez às
instituições internacionais, contratualizando empréstimos financeiros avultadíssimos
para salvar o país da bancarrota, hipotecando a soberania nacional e aumentando
substancialmente os impostos.
A conflitualidade
social é latente, assim como a instabilidade governativa, dificilmente e muito
raramente os governos cumprem as legislaturas integralmente.
A cultura de exigencia
e qualidade dá lugar ao laxismo e conveniencia.
O ilícito e a
imoralidade generaliza-se, a criminalidade aumenta, fruto de uma legislação
benevolente, permissiva e de uma justiça em todos os setores corrompida.
O ensino degrada-se a
todos os níveis, a má preparação dos futuros profissionais nas diversas áreas
de atividade reflete-se em todos os setores.
Nos cuidados de saúde,
somos um dos países que ocupa os lugares cimeiros no numero de óbitos nos
hospitais devido a erros e negligencias medicas, essencialmente no setor
publico.
Os projetos de
arquitetura e engenharia contem tal quantidade de erros que atrasam e encarecem
as construções mais do que previsto e adjudicado, com a agravante de se
utilizarem matérias primas de qualidade duvidosa, reduzindo a segurança e
durabilidade.
Cerca de quatro décadas
depois da implantação do regime democrático, vive-se mais e melhor
indiscutivelmente, devido fundamentalmente aos avanços da medicina, aumento da
qualidade de vida, maior poder financeiro das pessoas e maior proteção social
do estado.
Esta situação assenta
numa base periclitante, não sustentada, tem sido assim no passado, e continuará
previsivelmente.
Este panorama
recorrente será um defeito congénito da raça?
Talvez.
Wilson Churchill,
famoso estadista ingles do seculo vinte, afirmou:
Há quem mude de carater
pelo partido e há quem mude de partido por interesse pessoal.
Forma mais simples e paradigmática
de descrever a essencia dos seres humanos possivelmente não existe.
Com amizade.
Araujo.
Grato pela sinopse. Por que me diz respeito quanto à profissão ( e não só), lamento que haja somente três referências ao campo da Saúde: a data da criação do SNS, a "nota negativa" sobre as mortes nos hospitais públicos devido a erro médico e, finalmente, uma genérica nota sobre "os avanços da Medicina".
ResponderEliminarQuanto às primeira e última notas, não é possível refutá-las, são factos. Quanto à qualidade da medicina portuguesa, mormente no sector público, só de quem não acompanha as coisas por dentro é que pode vir tamanha omissão! É que uma imensa melhoria não é opinião subjectiva mas está expressa em números em todos os lugares.Ou o José "nunca ouviu sequer falar" da taxa de mortalidade infantil ter sido ( e ainda é) das melhores do mundo? E o próprio SNS, como um todo, ser o (creio) 11º melhor do mundo?
Só mais uma nota, esta minha e bem diferente: o que é isso, no contexto em que insere a palavra, de... raça?!...