…para ir descer a Avenida e encontrar os Amigos que nos
ajudam a recordar aqueles dias de Esperança e Sonhos. Voltamos a falar do
telefone que naquela madrugada tocou e a voz de um Amigo nos disse: liga a
rádio, liga a televisão. E meios ensonados se saltou da cama, nos vestimos e
uns foram para a rua contactar outros Amigos. Grândola Vila Morena numa mais
será esquecida. Os anos já não nos deixam descer toda a Avenida mas esperamos a
meio pelos mais novos e pelos mais audazes e depois chegamos ao Rossio e sentados
numa esplanada iremos desfiar as nossas recordações. Comentaremos o que estamos
a passar, o que devia e podia ter sido feito. Apesar de tanta coisa “perdida”
que os dias de Esperança nos tinham perspectivado continuamos a celebrar o
Abril de 1974.
Tanta coisa que facilmente podia ser uma realidade: as
reformas dos que trabalham há tantos anos; os Professores e os Médicos e os
Enfermeiros; as funções de desgaste rápido… E depois falamos sempre dos
horários desregulados, do preço e falta de transportes e os ordenados tão
baixos. Aqui vamos certamente falar dos que ganham numa hora aquilo que uma
grande maioria – milhões mesmo de portugueses não ganham num ano. Há sempre um
de nós que não nos vai deixar continuar a afundar em desesperança. Tem sido assim
todos os anos. E começamos a falar de estarmos ali, numa esplanada da nossa
baixa lisboeta, a recordar que temos Liberdade de falar alto, de escrevermos,
de lermos o que nos apetece, de criticar e dar “dicas” de como devia ser para
que o Sol brilhe para todos nós. Lembramos Ary dos Santos, Zeca Afonso, a
possibilidade de termos o forte de Peniche a receber visitas guiadas e
esclarecedoras para não deixarmos que jamais volte a ser presídio. Paramos
alguns minutos nas boas recordações para referir a corrupção, os tachos e
acumulações que os jornais sempre vêem informando, o bombardeamento que a
comunicação social nos faz diariamente sobre o futebol como se não houvesse as
medalhas dos Olímpicos e Paralímpicos, dos nossos Ginastas, do Judo… dos nossos
artistas, os trabalhos premiados dos nossos cientistas, mas saltamos de novo
para os projectos para os nossos Netos que acompanhamos e ajudamos a esclarecer
e do nosso trabalho que como cidadãos conscientes que somos – mesmo
condicionados pelo peso dos anos – vamos desenvolvendo. E, depois vamos
regressar às nossas casas fazendo votos que para o ano as nossas conversas
sejam só de festejo das coisas boas que possam acontecer. E despedimo-nos com
aquela frase que está sempre no nosso coração: “agora ninguém cerra as portas
que Abril abriu”!
Maria Clotilde Moreira
Jornal Costa do Sol – 18.04.2018
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