Com certeza que há muita gente que enaltece o 25 de Abril de
74, animado num floreado encravado de vermelho. Com certeza que têm muitas
razões para contentamento e sentirem-se ainda hoje em festa. Mas com certeza
que há outros muitos, que sentir-se-ão frustrados com a caminhada que esse
Abril os obrigou a calcorrear. A Revolução, dita de libertação, provou-nos até
hoje, que serviu para enriquecer ainda mais os ricos, e agravar as condições dos
pobres, e até juntar-lhes os remediados que existiam na véspera e nos dias
seguintes ao acontecimento naquela data. Os pobres, não sentiam a angústia de
hoje, nem o desespero em que vivem actualmente. Adormeciam numa pobreza
consentida, e acordavam num quadro de exigências aceites como naturais, mas sem
a revolta que hoje os assalta. O 25 de Abril, foi bom para o surgimento do
oportunismo e enriquecimento ilícito, e muito reles para os que estavam e
continuaram de fora das vantagens impossíveis de se lhe chegar. É certo que os
que andavam descalços hoje trazem os pés mais protegidos, e os rotos, não
vestem prada, mas trajam uma roupita dentro do padrão que a feira e a carteira
permite. Hoje ainda há os contentores para recolha de roupa usada, e
distribuição de comida aos famintos, com espalhafato reportado. Porém as
dificuldades são na actualidade, mais insuportáveis que as sentidas “no tempo
da outra senhora”. É verdade que o analfabetismo diminuiu, mas a ignorância
mantém-se e dói mais. Os muros são mais visíveis sempre que chegamos à
burocracia e ao pedido de ajuda para os ultrapassar. E no entanto o 25 de Abril
já foi há 44 anos bem medidos. É verdade que nem tudo foi mau durante estes
anos de muita conversa, discurso oficial, criações públicas para privado ver,
privilégios e indemnizações chorudas para quem as soube embolsar, mediocridade
no poder local e central dos habilitados e diplomados com maus créditos, festins
e marchas de protesto, emprego algum e precariedade a rodos, etc. Mas tendo em
conta este tempo passado, somos obrigados a pensar, que nos trouxe
verdadeiramente tal Revolução floreada, para além desta sorrateira liberdade de
expressão, como é este caso e dela uso, sabendo contudo que a mesma liberdade
não existe, de publicação, mesmo se ela se exerce no respeito pelas normas
estabelecidas por quem as exige e recomenda, e se torna prejudicial por vezes?
E sabendo que o silêncio e a vergonha de muitas pessoas e famílias se mantém,
por não terem aonde cair mortas, por não receberem um cêntimo ou uma flor
sequer, do Estado Social, e disfarçarem os dias à sombra da nova realidade com
a amargura velha, como se tudo fosse um mar de rosas ali no banco do jardim ou
dentro da barraca que não fala mas esconde olhares embaciados? O 25 de Abril
foi o que foi, não é?*
-*(hoje pubcdº25.04.018."Público"-mitigado)
- *( in 26.04-Destak.págª15.c/cortes)
- *(in 17.05-no JNpágª35resumº)
Receba, Companheiro de Jornada, o meu mais sincero abraço por tudo que acima escreveu,com o qual estou de acordo, mas que não teria nem tenho a mestria para o dar à estampa.
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