segunda-feira, 1 de outubro de 2018


Nunca estamos satisfeitos...


Tirando aqueles cumprimentos de carácter profissional, que obedecem a regras estereotipadas, sobretudo enquanto não se estabelece confiança mútua, a forma como grande parte dos portugueses se cumprimenta deve ser única no mundo; na verdade, é difícil ouvir alguém responder, quando interpelado: “Então, como vai isso? –Bem, obrigado,  você também?” De facto, o que normalmente se ouve é: “ mais ou menos; vamos andando; assim assim”.

Escreve Carlos Brito no “Dinheiro Vivo” que, de acordo com o Banco Mundial, Portugal teve em 2017 o 36º maior PIB per capita entre 200 países; que, segundo a OMS, temos o 12º melhor SNS do mundo, somos o 19º país com maior esperança de vida à nascença e temos uma baixa taxa de mortalidade infantil; somos o 4º país mais pacífico do mundo; ocupamos o 10º lugar no ranking das democracias e a 41ª posição no índice de desenvolvimento humano.

Apesar de tudo isto, em termos de felicidade percebida ou declarada, situamo-nos na 77ª  posição e somos o país da OCDE cuja população se revela menos satisfeita com a vida que tem, coisa que dá para perceber quando observamos as imagens que nos chegam da rua, com gente sempre a olhar para baixo, “macambúzia”.

 Como a insatisfação é uma característica do ser humano, não me parece que seja necessariamente um defeito, desde que se manifeste numa procura permanente de aperfeiçoamento e não na lamúria como forma de estar na vida, no comprar demasiadas coisas que não são necessárias, passando por isso a viver a crédito, o que significa  transferir para terceiros a gestão da vida...


Amândio G. Martins

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