Goiânia, 20 de julho de 2021
Este singular e admirável ser humano foi
Cônsul no Brasil na década de 1920, nas cidades de Curitiba, São Luiz do
Maranhão e Porto Alegre. De seus 14 filhos dois nasceram no nosso solo, tendo
em 1940 assumido o consulado em Bordéus, França, por designação do então
ditador Salazar, em pleno furor da segunda guerra mundial, na qual Portugal se
declarava neutra.
Na qualidade de Cônsul na França ocupada pela
Alemanha, Sousa Mendes desafiou as ordens expressas de seu governo, concedendo
mais de 30 mil vistos de entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades,
dos quais cerca de 10 mil eram judeus.
Revelando
uma coragem e determinação invulgares - e consciente do risco para sua vida e a
da sua família - recusou-se a entregar milhares de pessoas a um destino certo
nos campos de concentração nazistas. Confrontando com as ordens de Lisboa, ele teria dito: "Se há que desobedecer, prefiro que
seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
O
governo português, ao se sentir pressionado pela sua condição de país não
beligerante, o destitui de suas funções no consulado. Souza Mendes ainda apelou
para o Supremo Tribunal Administrativo e para Assembleia Nacional, mas de nada
lhe valendo estes recursos.
Para
agravar a sua situação, ele foi colocado em disponibilidade com drástica
redução salarial, e o pior: foi lhe proibido exercer a advocacia, com total
retirada de oportunidades, inclusive aos seus filhos, que com isto foram
obrigados a emigrar. Consta que dois deles se juntaram ao exército americano na
invasão da Normandia (Dia D).
Aqueles
que defendem Salazar pelo excessivo rigor aplicado a Souza Mendes, ao lhe ter
tirado as mínimas condições de manutenção da família, alegam que ele o fez por
pressão direta de Hitler que tinha inclusive pedido a sua cabeça, por não
perdoar o Cônsul, principalmente por
ter concedido visto ao Príncipe Otto de Habsburg, filho do último
imperador do império Austro-Húngaro. O ditador nazista considerava o Príncipe
seu desafeto pessoal e lhe tinha jurado de morte.
O que
nos causou estranheza foi, no após guerra, Salazar, mesmo tendo ficado com o
mérito do salvamento de tantas pessoas, não ter restituído Souza Mendes ao seu
antigo cargo, fato só acontecido simbolicamente após a sua morte com
o título póstumo, “Ordem da Liberdade” em 1989,
no governo de Mário Soares, onde a Assembleia da República reparou
a grave injustiça que lhe fora cometida, reintegrando-o no serviço diplomático
por unanimidade e aclamação.
Dois fatos
marcantes na vida humanitária deste diplomata português foram muito explorados
pelos meios de comunicação: é que entre as várias pessoas salvas pelo seu gesto
de rebeldia, está a do grande pintor Salvador Dali e por ele ter recebido em
vida uma profunda admiração, respeito e amizade por parte do grande cientista Albert Einstein.
Em estimativas realizadas em Israel, presume-se que
a quantidade de descendentes oriundos dos judeus salvos alcança a ordem de 60
mil pessoas, façanha bem superior a conseguida pelo alemão do filme Lista de Schindler.
Em reconhecimento aos seus atos humanitários, o seu nome foi inscrito em árvores plantadas em sua homenagem na avenida “Dos Justos Entre As Nações”, no museu do holocausto Yad Vashem, na cidade de Jerusalém. A sua destemida conduta solidária foi perfeitamente enquadrada dentro do espírito do provérbio judaico que diz: “Quem salva uma vida salva a humanidade”
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