Leio na rúbrica “caras da semana” deste Domingo, 30 de Junho, analisando
a figura de “Nuno Crato, O negociador”, que: “Ministro e sindicatos acordam o
que estava debaixo da mesa há semanas” e também que “(…) ficou a sensação de
que os dois lados estavam apenas a medir forças.” Na minha qualidade de
professor não fico particularmente impressionado com um jornal que baseia a sua
opinião sobre as greves que opuseram o meu sindicato e o ministério da educação
numa sensação. O autor do texto talvez pudesse ter especificado: tratou-se de
uma “leve sensação” ou de uma “forte sensação”?
De todo o processo de luta que abalou o final do ano lectivo deu-se uma
grande relevância à greve aos exames. Jornais e televisões abriram os seus
espaços informativos com grandes parangonas e um tom apocalíptico, características
da informação-espectáculo. O trabalho era do mais fácil que imaginar se pode;
bastava colocar um jornalista estagiário à porta de uma escola e enfiar um
microfone à frente de alunos, pais e professores, perguntando de que modo
batiam os seus corações. Cada um expressou a sua opinião, os
leitores/espectadores puderam sentir de que lado se colocavam. Tudo muito à
flor da pele. O ministro aproveitou para fazer de vítima (os professores não
tinham o direito de fazer uma greve daquelas), Cavaco veio apelar ao bom senso,
Passos Coelho propôs datas convenientes para se fazerem greves e concluiu que,
como a lei não lhe convinha, o melhor seria alterar a lei, até o bispo de
Lisboa (se não estou em erro) veio apelar aos sentimentos cristãos dos
professores em defesa das criancinhas. A greve tornou-se, como convinha, um
autêntico circo mediático.
No entanto, decorria em simultâneo, uma outra greve de professores, às
avaliações de final de ano. Essa era uma greve silenciosa, uma greve chata, uma
coisa sistemática e monótona que não proporcionava o espectáculo mediático que
alimenta os noticiários, sempre em busca de sangue e tripas à mostra. Foi, no
entanto, esta greve que precipitou o desenlace das negociações entre sindicatos
e ministério com vantagem nítida para as pretensões do professorado.
Analisando as conclusões do processo negocial importa salientar que a
reivindicação mais importante dos sindicatos, a manutenção da direcção de turma
na componente lectiva dos professores, foi aceite pelo ministério mas não vi
nenhum órgão de informação dar a este “pormenor” a relevância merecida.
É que o
trabalho de direcção de turma não só é complexo e exigente como também, caso
fosse atirado para a componente não lectiva dos horários docentes, significaria
o desaparecimento de milhares de horários e respectivas vagas nos quadros das
escolas e consequente desemprego para milhares de professores. A sobrecarga de
trabalho para os directores de turma significaria (ainda mais) perda de
qualidade no ensino público e privado. As questões de mobilidade e as
espampanantes 40 horas de trabalho são trocos quando comparadas com o “pormenor”
da direcção de turma, aborrecido e difícil de compreender para quem está fora
do sistema de ensino.
Apelo, nesta carta, à directora do jornal Público para que se faça uma
análise cuidada às repercussões que seriam sentidas no sistema de ensino caso o
ministério da educação tivesse conseguido, como ansiava, retirar a direcção de
turma da componente lectiva. Enquanto professor sinto-me quase insultado quando
ouço dizer que estas greves foram uma “guerra do alecrim e da manjerona”,
conclusão que convém, e de que maneira, para manter mais ou menos limpa a
frágil imagem política de Nuno Crato. Negociador? Não brinquem com coisas
sérias.
carta enviada à directora do Público
Um dos grandes problemas da comunicação social é a falta de preparação de muitos jornalistas e comentadores. Falam de tudo, mesmo do que não conhecem em pormenor. Não incluir a DT (2 tempos)nas horas lectivas era um roubo e um crime. Só quem passou por esse cargo, e que que o cumpriu honestamente, sabe o trabalho que dá e a responsabilidade que lhe está implícita, ainda mais no período de grandes dificuldades que muitas famílias atravessam. Os horários têm de voltar aos 50 minutos, com 10 de intervalo, para evitar as confusões na mudança de salas.
ResponderEliminarInfelizmente muitas das vezes me vejo como o tolo no meio da ponte. Em quem acreditar? Nos jornais, nas palavras de um senhor ministro, nas mensagens dos sindicatos. O que se discute verdadeiramente numa greve, como esta recente? Andamos constantemente mal informados e pelo que acabo de ler não era a questão da mobilidade mas algo a ver com a direcção de turma que estava verdadeiramente em discussão. É por estas e por outras que eu digo que existe muita des-informação na pretensa informação que nos tentam passar. Culpa de quem? Só de alguns? De todos? Aqui encontro alguma utilidade nestes blogues para o esclarecimento destas e outras questões que surgem no nosso dia-a-dia.
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