(Feira do Livro no Porto em 2012)
A
edição de sexta-feira de o “Público” trás um suplemento, “Ípsilon”, com os
artigos ligados à cultura, novidades da artes e espectáculos. Nesta última
edição, como não poderia deixar de ser, deu um destaque 6 páginas ao Herberto
Helder que tinha acabado de lançar mais um livro de poemas inéditos, “Servidões”, que como diz o jornalista Luís Miguel Queirós, é novíssimo e está
esgotadíssimo. Ora como é do conhecimento de muitos o poeta tem uma atitude muito
reservada quanto a entrevistas e fotografias como que alimentando uma certa
aura. Com este novo livro de poemas de H. Helder ficamos mais uma vez, tal como
aconteceu em 2008 com “A Faca Não
Corta o Fogo”, com água a crescer na boca
porque a edição se limita a 5 mil exemplares, por vontade expressa do escritor
e pena da editora, julgo. Ou não, uma vez que em 2008 a editora acabou por
contornar a questão com a edição imediatamente posterior da colectânea de
poesia “Ofício Cantante” onde se incluía já “A Faca Não Corta o Fogo”. Este
ano, já admitido por Luís Miguel Queirós em “Público” de 23 de Maio, iremos ter
nova edição da sua colectânea de poesia completa, em breve. Truque? Marketing? Preocupação
ambiental? Qual o sentido? Este ano volta a ter um limite de exemplares para o
sempre aguardado livro do poeta. Milhares de leitores do “Público” ficaram a
saber, por intermédio dos jornalistas que a promovem, do interesse e valor
desta obra, no entanto muito poucos, por vontade do escritor, a poderão ler. Que
sentido faz a editora oferecer (!) livros aos diferentes jornalistas para a sua
promoção se a totalidade da edição já está vendida à partida? Claro que os
jornalistas agradecem. Serão donos de uma imensidão de livros…oferecidos. Sempre
julguei que houvesse a ambição de a nossa obra ser lida, apreciada, elogiada
pelo o maior números de pessoas possível. Daí o destaque que se dá a uma obra
quando rapidamente esgota e se têem de fazer novas edições. Por outro lado o
que seriam das livrarias e editoras se TODOS os escritores, romancistas,
ensaístas, poetas, contistas fossem assim contidos no número de exemplares editados?
E de nós, que não poderíamos entrar numa livraria e passear os olhos nas
páginas preferidas, namorar um pouco com os livros que não podemos comprar ou
tão só satisfazer a nossa curiosidade literária? As livrarias deixariam de
fazer sentido dado que o livro antes de sair já estaria esgotado. E para
aqueles que têm o privilégio de conseguir serem os primeiros a encomendar o
livro não necessitariam de sair de casa. A internet punha-lhes o livro em casa,
pelo correio. Quando soube da iminente saída do “Servidões” lá me dirigi à livraria
mas disseram-me logo que da quantidade de reservas poucas seriam satisfeitas.
Pena. E fiquei a pensar no que tem o poeta contra as livrarias e que sua obra seja
lida por…vá lã, mais uns mil ou dois mil leitores. A resposta talvez a tenha
dado António Guerreiro num artigo no mesmo suplemento:”Herberto Hélder zela
tanto pela autonomia da sua obra (…) que acabou por criar condições aptas a um
investimento mercantil: o seu livro é capturado por especuladores, como se
tratasse de um produto financeiro ou de uma mercadoria rara.” Estará Herberto
Helder do lado do grande capital, dos especuladores, dos que vêem nos seus
livros simplesmente óptimos investimentos? A passada compra da ‘Assírio &
Alvim’ pela ‘Porto Editora’ talvez só tenha sido possível por causa do peso de
H.H. no catálogo ‘Assírio’. Um bom investimento sem dúvida. A pergunta que fica
é: e quando o poeta nos deixar, as reedições, que não terão o mesmo valor
obviamente, irão pelo menos aparecer para os que ainda aguardam conhecer a sua
obra? Talvez um dia tenhamos o orgulho de ver uma 1ª edição de “Servidões”
ou “A Faca Não Corta o Fogo” leiloada na ‘Christie’s’ por uma fortuna. Se eu
tivesse capital sem dúvida que investiria em “Cultura”. Parece que é o que está
a dar…e mesmo assim, sem querer, julgo já ter algumas raridades.
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