quinta-feira, 13 de junho de 2013

O boémio pacato

Fernando Pessoa visto por Almada Negreiros



Fernando Pessoa (poeta
1888.Junho.13 – Lisboa, Portugal, / 1935



Um dos maiores génios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos escritores portugueses mundialmente conhecidos. A sua poesia acabou por ser decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos – A. Caeiro, Á. de Campos e R. Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em 1888 (onde virá a falecer) e aos 7 anos partiu para a África do Sul com a sua mãe e o padrasto (seu pai morreu tinha Pessoa cinco anos), que foi cônsul em Durban. Em 1914 é o ano da criação dos três conhecidos heterónimos, acontecimento de enorme importância para o poeta. Nascem assim Alberto Caeiro, "O Guardador de Rebanhos", Álvaro de Campos com a sua "Ode Triunfal" e Ricardo Reis. Para além desta diversidade de vivências, toda a obra enuncia as grandes preocupações que a motivam e dilaceram; o conhecimento, a infância, o tempo, o tédio à morte. A explicação para o problema da heteronímia dá-a o próprio Pessoa: “A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim (…) a minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação”. Em 1915 lança, com Mário de Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros e outros, a revista "Orpheu", que dá origem ao Modernismo. Em 1925 com a morte de sua mãe, Pessoa passa a viver muito só, fechado sobre si mesmo, inepto para o amor, sem ambições que não fosse as de grandeza literária, mas com frio na alma, inquieto, atormentado e fisicamente envelhecido, procurando cada vez mais no álcool a evasão, como se as ficções estéticas lhe não bastassem. Tudo na biografia deste homem tímido que todos estimam pela sua afabilidade, cortesia e finura de inteligência, se parece reduzir a uma existência apagada, modesta, sem ambições em contraste com a riqueza e diversidade da sua vida literária.
Pessoa marcou profundamente o movimento modernista português, quer pela produção teórica em torno do sensacionismo, quer pelo arrojo vanguardista de algumas das suas poesias, quer ainda pela animação que imprimiu à revista "Orpheu" (1915). No entanto, quase toda a sua vida decorreu no anonimato. Quando morreu, em 1935, publicara apenas um livro em português, "Mensagem" (no qual exprime poeticamente a sua visão mítica e nacionalista de Portugal), e deixou a sua famosa arca recheada de milhares de textos inéditos. A editora Ática começou a publicar a sua obra poética em 1942. No entanto, já o grupo da "Presença" tinha iniciado a sua reabilitação (poética e filosófica) face ao público e à crítica.
Fernando Pessoa, o boémio pacato, morre de cirrose hepática na cidade onde nasceu com 47 anos de idade no dia 30 de Novembro de 1935.

4 comentários:

  1. Este é o grande poeta e pensador que a Ditadura não deixou emergir e a Democracia olvidou ou não tem dado o relevo merecidíssimo que merece. Continua o oportunismo a sobrepor-se ao génio. É uma fatalidade portuguesa.

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  2. Fico surpreendido com a sua opinião sobre Fernando Pessoa ser olvidado. Não tem ele edições de livros sobre edições numa arca inesgotável, uma casa só para ele e uma projecção que mais nenhum têm? Onde está o olvidamento, caro Joaquim?

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  3. Eu fui professor de Português e História durante décadas, numa escola com quase 200 colegas. Tenho as edições da Ática que comecei a comprar em 1963 e tenho adquirido as obras de Pessoa em diversas colecções. Dos meus colegas, salvo os da disciplina, ninguém se interessava por Pessoa e raramente alguém adquiriu ou leu um livro desse génio. Eu falo de experiência própria. A Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, é sobretudo um lugar preenchido politicamente e o seu funcionamento ao público deixa muito a desejar, por ser demasiado burocrático. No ensino secundário devia ser mais aprofundado e não por sorteio como sucede nalguns anos nos exames. Fernando Pessoa merecia e devia ser uma cadeira obrigatório nos Cursos de Línguas das Universidades Portuguesas, pelo menos numa estadual. É apenas uma opinião e eu não acerto todas. Obrigado por ter a atenção de opinar sobre o meu escrito.

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  4. Para o Pedro Carneiro
    Para reforçar o que exprimi no dia 13, junto mais a informação, colhida hoje no caderno 2 do Público, pág. 9, onde se diz que a Casa Frenando Pessoa tem à venda, por 50€, cada exemplar do livro "Fernando Pessoa & Ofélia Queiroz.Correspondência". Quem quer popularizar o autor não lança livros fora do alcance das bolsas do povo. A Casa Fernando Pessoa é um espaço que serve apenas algumas elites. Não é mais que um adereço que fica bem exibir.

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