A propósito
da greve dos professores marcada para o próximo dia 17 muito se tem dito. O ministro
Nuno Crato e seguidores acusam os professores de estarem a ser violentos com os
seus alunos, de se mostrarem insensíveis aos seus anseios e necessidades, que
estão a por em causa o estudo e a preparação dos infantes. Esquecem a violência
que representa enfiar turmas de 30 alunos numa sala, quais sardinhas em lata e
que, no que ao estudo e preparação dos exames diz respeito, esta sobrelotação
do espaço (físico e psicológico) é, no mínimo, desumana e contraproducente. Ou talvez
não se esqueçam disso, talvez apenas lhes falte a coragem para reconhecer que a
qualidade do ensino não sobrevive às medidas que têm vindo a implementar a
toque de caixa, no seguimento das políticas educativas de Maria de Lurdes
Rodrigues que tão diabolizada foi pelo actual ministro quando este assumia o
papel de comentador atento e inteligente. Compreendemos cada vez melhor como é
fácil falar. Talvez prefiram ignorar que um professor do ensino secundário dificilmente
consegue cumprir os programas ciclópicos que é obrigado a impingir aos seus
alunos. Já era difícil com turmas de 24, com turmas de 30 é uma missão virtualmente
impossível. No meio da multidão muitos são os que ficam para trás. Vive-se, nas
escolas, uma espécie de Lei da Selva, impõe-se um Darwinismo implacável; neste
ambiente caótico salvar-se-ão as escolas privadas, imagino eu, onde quem tem
dinheiro paga por mais espaço nas salas de aula e por mais e melhor atenção da
parte dos professores.
Senhor ministro,
senhores secretários de estado e demais ilusionistas do ensino, não venham com
conversas vazias sobre a vossa preocupação com o futuro dos alunos e a brutalidade
dos professores grevistas. Assumam as vossas responsabilidades na degradação do
sistema de ensino que nós, professores, sempre cá estivemos, estamos e
estaremos para assumir as nossas, quando for caso disso. A questão das 40 horas
não me (nos) incomoda, se isso não significar mais serviço lectivo. E não incomoda
por uma razão muito simples: qualquer professor empenhado e comprometido com o
seu papel de educador trabalha muito mais do que isso sem que seja necessário
vir quem quer que seja ralhar e apontar o dedo.
O único
objectivo do ministério da educação é, de há alguns anos a esta parte, muito
simples: reduzir os custos. As metas pedagógicas, as avaliações de professores
e demais cavalos de batalha que por aí andam à solta são tretas. Nada mais.
Carta enviada à Directora do jornal Público
concordo consigo, Silvares:"qualquer professor empenhado e comprometido com o seu papel de educador trabalha muito mais do que isso sem que seja necessário vir quem quer que seja ralhar e apontar o dedo."
ResponderEliminar