São José Almeida escreveu num tom diferente. Gosto deste seu «novo» registo: levando um pouquinho do quotidiano, da vida real, da visão que os mais atentos têm, para uma análise social aos olhos da jornalista. Identificamo-nos com este texto. Sabe bem.
Transcrevo algumas passagens de um todo que vale a pena ler no
PÚBLICO de hoje, página 49:
" (...) a luz incide e ilumina um corpo. Entre papelões de caixotes desfeitos e coberta de roupas gastas e sujas, dorme uma pessoa. (...) Mas o que mostra esmaga. Uma pessoa, no fim da linha, uma pessoa para lá do limite, uma pessoa a dormir no chão de pedra da entrada de um banco. A imagem em si é paradigmática do sistema social e económico e dos seus vícios. Presta-se a todas as demagogias e a todos os populismos sobre os horrores do capitalismo. Mas naquele momento, para mim, vejo apenas alguém cuja diferença em relação a mim é nenhuma, a não ser a de uma série de circunstâncias que o fizeram ficar daquele lado da porta de vidro da entrada do banco e cercar-se de papelões para resistir ao frio, para sentir algum aconchego. Vinda de um jantar feliz, comento o que vemos naquela montra com uma amiga — que me desafia a escrever sobre o assunto (...) o que liga as pessoas é os afectos, é o amar, é o cuidar. Como a pressão social e o medo empurram as pessoas para o domínio da competição, da carreira, do consumismo. E se esquecem de si e dos outros e do amar e do cuidar. Em suma, da dignidade e da solidariedade. Entro no carro e volto para casa a conversar. No meu pensamento permanece aquela pessoa deitada no chão (...) Alguém sabe explicar- me se é para isto que fazemos eleições e dizemos que vivemos em democracia e dizemos que somos civilizados?"
Há muitos e muitos anos que São José Almeida, de quem sou apreciador dos seus textos, escreve o seu texto de opinião no "Público" tal como há muitos e muitos anos existem por Lisboa sem-abrigos espalhados pela cidade. Só agora é que se decidiu escrever sobre eles?...
ResponderEliminarBem Visto...
ResponderEliminarSó agora «viu».
Entro no carro e penso em eleições, disse a jornalista. Eu gostava que a jornalista tivesse um rebate de consciência e pensasse como cidadã, o que podia fazer, naquele momento para ajudar um ser humano em dificuldade.
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