A imbecilidade reinante
(II)
Portugal deve ser dos países, no
mundo dito civilizado, onde os cidadãos e as empresas pagam mais taxas e
impostos, tendo em conta o seu PIB. Paga-se para certificar a nascença e a
morte com certidões pagas para os registos. Paga-se para viver com um cartão de
cidadão, pago e renovado periodicamente, o que dividido pelo prazo de validade,
dá uma taxa anual de alguns euros. Pagamos taxas de saneamento, de resíduos, de
recursos hídricos e IVA, acrescidas ao recibo do consumo da água, superiores 2
e 3 vezes o valor cobrado pelo serviço. Nos salários pagos pelas entidades
privadas, só para a Segurança Social, o governo cobra 34,75% (sendo 23,75 da
entidade patronal e 11% do trabalhador), para além do IRS ao trabalhador, com
os diversos escalões, que chega a atingir 40%, acrescido da taxa
extraordinária, e sobre os lucros obtidos pela empresa cobra 25% de IRC. O
imposto predial, rebatizado como IMI, é um autêntico esbulho da propriedade,
pois, mesmo que não tenha rendimento, paga anualmente um imposto sobre o valor
matricial actualizado. Se estiver arrendada deve pagar uma taxa aproximada de
20% sobre a importância arrecadada, sendo as obras e benefícios sempre da conta
do proprietário. No recibo da luz, que paga IVA de 23% vem a contribuição
audiovisual, também acrescida de mais 6% de IVA, quer utilize ou não o serviço.
Se tem carro, pagou quase 1/3 do seu valor em impostos quando o comprou. Se o
recolhe em garagem pública paga 23% sobre o custo do aluguer. Paga anualmente imposto
de circulação. Paga inspecção periódica, que é acrescida no custo de mais 23%
de IVA. As taxas dos combustíveis são superiores ao preço do produto antes de
aplicadas. Os transportes são taxados com IVA. A alimentação, se for em
restaurante, o calçado, a roupa, o simples corte de cabelo ou a lavandaria,
tudo isto é acrescido de 23% de IVA.
Os pequenos cafés de bairro têm
forçosamente de fechar portas. Para além, dos encargos do exercício, como
renda, água, luz, limpezas, taxa para a Sociedade dos Autores, taxa de
esplanada, taxa de reclame luminoso, encargos com canais de televisão, o
proprietário tem de pagar, mensalmente, o mínimo de 168€ para a Segurança
Social, e tem de suportar ainda mais 23% de IVA sobre a receita bruta. É um
profundo golpe num rendimento, já de si muito apertado, que asfixia a sua já
débil existência. O estranho é os responsáveis não verem isto.
Para obstar um pouco este
descalabro, alguns portugueses, inteligentemente, com uma certa dose de
desenrascanço, vão funcionando na chamada economia paralela, que ainda faz com
que algum dinheiro circule, sem que o governo dele se aproprie no todo ou em
parte. E isto é uma forma de sobrevivência, pois se os pequenos serviços fossem
todos controlados e acrescidos de impostos, as pessoas que os executam
deixariam de os fazer e tínhamos mais despesa com subsídios de desemprego ou
RSI. Acho estranho, que na actual situação de penúria de uma grande parte dos
nossos concidadãos, se ligue importância a alguns estudos académicos, que
apontam verbas astronómicas perdidas em impostos com a dita economia paralela,
como se fosse possível cobrar mais que o actual, porque está atingido, ou já se
ultrapassou, o limite do razoável. É um tipo de tarefa encomendada que pretende
responsabilizar os pobres, que fogem aos impostos, do massacre a que estamos
submetidos.
Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo
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