O OCIDENTE É UM ACIDENTE
No seu livro “Para
um Diálogo das Civilizações” – Círculo de Leitores –Roger Garaudy começa assim:
“O Ocidente é um acidente” é o axioma número um de toda a invenção do futuro.
Este modo, para os ocidentais, de considerar que o indivíduo é o centro e a
medida de todas as coisas, de reduzir toda a realidade ao conceito, de erigir
em valores supremos a ciência e as técnicas como meio de manipular as coisas e
os homens é uma excepção minúscula na epopeia humana de três milhões de anos.
O
Renascimento, que não é apenas um movimento cultural, mas o nascimento conjunto
da capitalismo e do colonialismo, longe de ser o apogeu do “humanismo”, destruíu
civilizações superiores à ocidental nas suas relações do homem com a natureza,
com a sociedade, com o divino..
Uma história
verdadeira, numa história que não estivesse centrada no ocidente, seria uma
história das condições perdidas pela humanidade, motivada por uma supremacia
ocidental, não devida à superioridade da cultura, mas a uma utilização militar
agressiva das técnicas das armas e do mar. A criação de um futuro verdadeiro
exige que sejam reencontradas todas as dimensões do homem desenvolvidas nas
civilizações e nas culturas não ocidentais.
O projecto
esperança, para criar uma nova textura social, para inventar um novo conceito
de política, exige uma nova dimensão, que partamos de uma perspectiva comunitária,
não de uma delegação e alienação do poder como nas democracias representativas
onde tudo vem de cima, mas de uma democracia participativa, apoiada nas
iniciativas de base e suas livres associações.
Sobrevoei
todos os cumes do mundo, transpus todas as portas, pude recolher-me em todos os
altos lugares onde o homem deixou sinal das suas obras. Sobrevoar todos os
cumes, banhar-me em todos os mares e rios, transpor todas as portas, é também
um símbolo do que nos ensinam, quando ouvimos com humildade, os homens que aí
vivem hoje grandes aventuras humanas que aí foram vividas e os projectos
humanos que aí são sonhados para o futuro.
O que se
convencionou chamar “Ocidente”nasceu na Mesopotâmia e no Egipto, ou seja, na Ásia
e em África. Se encaramos o Ocidente como um estado de espírito orientado para
o domínio da Natureza e dos homens, uma tal visão do mundo remonta à primeira
civilização comhecida, a que viu o dia no delta do Tigre e do Eufrates, na
Mesopotâmia, hoje Iraque.
O nascimento
da nossa civilização encontra a sua expressão literária na “Epopeia de
Gilgamesh”, mil e quinhentos anos antes da Ilíada; nos cantos desta Epopeia,
escrita há quatro mil anos para o rei Assurbanipal, se descobrem todos os
componentes do espírito ocidental.”
Transcrito
por Amândio G. Martins
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