DOS LIVROS DA SAGESA
Algumas das
primeiras obras da literatura egipcia são uma “doutrina da sagesa”. Estes
autores apreciavam, sobretudo, a inteligência prática. “Deve conservar-se o
sentido da medida; é preciso saber estar calado junto daqueles que são
incapazes de guardar um segredo; é preciso não ser presumido, pois ninguém sabe
o que lhe reserva o destino.”
Outro sage
célebre do Antigo Império foi um vizir que viveu na 5ª dinastia: “Quando fores
convidado para um repasto em casa de um homem que te é superior, come o que te
oferecerem; não fixes o olhar nos pratos que o teu anfitrião tem diante de si;
ocupa-te do que está no teu próprio prato; mantém os olhos baixos até que
agrade ao teu anfitrião saudar-te e não fales senão quando ele te dirigir a
palavra. Se queres conservar a amizade de uma família que te recebe, evita
aproximar-te das mulheres da casa.
Quando
alcançares a abastança casa-te e ama a tua mulher mais do que a tudo no mundo;
se te tornares rico e poderoso depois de teres sido pobre e insignificante, não
esqueças o passado; não te fies nos teus tesouros, que são um dom de Deus.
Uma outra
doutrina da sagesa, que data provavelmente do séc. XX a.C. apresenta um
interesse muito particular por ser um dos mais notáveis monumentos da cultura
egípcia. O seu autor, Amenemope, escreveu o livro para o seu filho mais novo,
recomendando-lhe modéstia e sensibilidade:
“Estende a mão ao homem em desgraça e
alimenta-o com o treu pão; sê calmo na presença dos teus adversários e
inclina-te diante de quem te ofende; não te vingues de quem te odeia; apoia-te
no braço de Deus, e a tua humildade e doçura abaterão os teus inimigos; não
cobices o bem alheio e sê justo em tudo o que empreendes; sê bom quando
receberes os impostos e não empregues medidas falsificadas quando pesares o
trigo; não desloques nenhum marco quando medires um campo nem toques nos marcos
do campo de uma viuva.
Um pouco de
pão todos os dias e um coração contente vale mais que riqueza com remorso. Sê
piedoso para com os pobres e os estrangeiros: Deus prefere quem honra o pobre
àquele que leva às núvens os poderosos da Terra; todos os dias Deus destrói e
constrói. Sê, portanto, humilde! Aquele que dobra a espinha não quebra os rins.
Não te gabes junto de outro homem nem separes o teu coração da tua língua; não
sejas amigo do tagarela nem te separes da tua dignidade.”
Transcrito por Amândio G.
Martins
A sabedoria, o bom senso, o respeito pelo semelhante e o desejo de uma certa ordem social, são valores que se cultivam desde as sociedades mais antigas. Contudo, tal como hoje, as vozes mais sensatas não são ouvidas suficientemente. É bom trazer à luz do dia estes fenomenais documentos, que nos ajudam a perceber a evolução do pensamento humano. Obrigado ao Amigo Amândio, sempre atento, por mais este contributo para iluminar o nosso conhecimento.
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ResponderEliminarRealmente, senhor Tapadinhas, são tantos os ensinamentos que nos chegaram de tempos tão distantes que é difícil perceber como ainda estamos tão atrasados
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