domingo, 15 de janeiro de 2017

«Educar é ter momentos terríveis»

Li com muito interesse a primeira parte do artigo «A ascensão da nova ignorância» de José Pacheco Pereira (JPP) do passado dia 31.12.2016.
Também eu, sobretudo como mãe, estou deveras preocupada e deprimida com a utilização abusiva, exagerada, doentia, que se tem vindo a fazer das novas tecnologias (telemóveis, redes sociais, videojogos, computador e mesmo a TV). Muitos, tal como JPP,  já repararam que cada vez mais se vê  pessoas "que estão juntas, mas que quase não se falam". E julgo que não é apenas em espaços públicos (restaurantes, escolas, etc.) mas, mais preocupante, dentro das nossas próprias casas. Concordo com o historiador, quando este suspeita que este comportamento  se trata de uma "patologia (...)" . Patologia porque se está a tornar (tornou) uma dependência,  uma droga, um vício...
Como disse, preocupa-me muito que "os adolescentes na vanguarda desta nova ignorância juntamente com seus jovens pais passarem o dia a enviarem mensagens sem qualquer conteúdo". É deprimente pensar (e já constatar ) que se possa vir a perder essa riqueza que são as "relações humanas de vizinhança, de companhia e amizade, sem interações de grupo, sem movimentos coletivos de interesse comum."
É um fenómeno que devia fazer-nos pensar e discutir coletivamente até à exaustão. Este sim, um assunto importante para ocupar fóruns, ser tema de reportagem e noticiários e discussão em disciplinas como Escola e Cidadania, por exemplo...
Estava agora a lembrar-me das tertúlias que poderiam voltar a reavivar-se, estou agora a pensar que, tal como nasceu há tempos o movimento «Slow Food» ou outros semelhantes, talvez se pudesse alimentar a ideia de se criar em cada freguesia espaços de tertúlia e encontro. Não é difícil , nem é preciso esperar pelo(a) presidente da junta para tomar a iniciativa...
Assisti hoje, na minha freguesia , ao 1º Encontro de Coros Séniores. De repente, a minha pequena vila, transformou-se numa capital da cultura viva. Vieram idosos da Póvoa de Varzim e de Coimbra para cantarem e festejarem a vida a troco de nada. Cada coro exaltou a sua terra e mostrou que envelhecer pode ser muito bonito e bom!
Levei os meus filhos para ouvirem a avó - convenci-os a ficar até ao fim, com algum custo. Escutaram  canções populares portuguesas antigas com letras lindas que eu já não ouvia há muito...Emocionou-me sobretudo perceber que foram  vozes de gente que não fez carreira musical e que não aprendeu música nos bancos da escola. Eles cantaram a cappella... - tão difícil.
Espero que fique na memória dos meus filhos esta experiência. Ás vezes cansa pensar em atividades que os façam sair de casa e desligar-se...
Como dizia o pediatra Mário Cordeiro ao PÚBLICO há um ano atrás, " Educar não é difícil. É ter momentos terríveis".

5 comentários:

  1. Até aqui no nosso blogue está havendo poucos comentários. Sobretudo a matérias tão importantes como esta que a Céu aqui nos traz. É um assunto extremamente importante. Negativamente importante. E como ela diz, com a participação dos jovens pais. Importante também é a sugestão da Céu para que se debata. Para que se fale nele. Mas, mais uma vez, parece-me que é bradar no deserto. Mas o Pacheco Pereira e a Céu, fizeram a sua obrigação. Parabéns!

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  2. Deveras preocupante esta realidade. Escrevi um artigo de opinião em tempos sobre exatamente este problema crescente nas nossas sociedades - este autismo social crescente para o qual, parece que os pais não conseguem encontrar antídoto. Isto aqueles que se preocupa, porque infelizmente vejo com frequência pais, jovens e menos jovens a colocarem os seus smartphones nas mãos de crianças de colo para os calarem.
    Infelizmente, também , na minha modesta opinião, estas problemáticas não parecem colher muito em termos de debate, como se fosse inevitável vergar-mo-nos perante o estrangulamento das tecnologias. Pessoalmente recuso-me mas eu sou apenas eu e a minha circunstância. Obrigada pela partilha.

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  3. Parece-me que a Graça é psicóloga. Como tal, entende muito mais que eu, cuja formação na área é apenas empírica. Mas gosto muito de, pelo menos, tentar entender o comportamento humano.Então vou observando e parece-me que é tão fácil convencer as massas, cujo comportamento é tão semelhante aos carneiros, aos rebanhos. Dois ou três exemplos: temos umas das melhores gastronomias do mundo, veja-se o sucesso da fast food ( que até provoca obesidade. E logo nos putos), as calças rasgadas.Ontem vinham duas miudas 15/6 anos a tiritar de frio e a esfregarem as pernas no sítio dos buracos. Meti-me com elas e fartei-me de rir. Os piercings, nos sítios mais incriveis, mamilos, clitóris, etc.as bebedeiras rápidas e até cair, agora o que a Céu fala. E outras ainda mais lamentáveis que lhes metem na cabeça como a da política que não interessa. Viram aquela reportagem no campus universitário? Rapazes e raparigas que nem sequer sabiam quem foi Mário Soares e outra que arriscou dizer que o Otelo era cantor de ópera.Uma tristeza! Como diz Carlos Tê no lindíssimo poema " A gente não Lê". E os que nos tramam por trás da luz a esfregarem as mãos...

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  4. Mas é moda! Mas os outros/as também fazem!... Mas a massa encefálica não dá para mais! Mas há quem ganhe tanto com isso!

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