“Jornalismo. Este caminho pode levar-nos
à autodestruição”.
É o título de um artigo, assinado por
Ana Cristina Pereira, no Público de 12/1/2017.
Sim, o prognóstico é plausível.
Como se pode ter comunicação social
(social - logo, serviço público e, dai exigível, informação com ética empresarial,
isenção , pluralismo) com concentração (directa e indirecta) do poder económico
sobre os órgãos de comunicação comercial, digo, "social"? Como?
Como podemos ter profissionalismo e
deontologia profissional no trabalho dos jornailstas quando ali grassa a
precariedade, a sobreintensificação do trabalho (em ritmo e duração), os
salários baixos (em contraste com uns poucos chorudos...), a desigualdade, a
discriminação, o desemprego (efectivo, do próprio e ameaçador, o dos outros...)
e, consequentemente, a falta de autonomia, a falta de independência, a "
corrosão do carácter" pela subserviência, o conformismo, o medo? Como?
Se bem que apenas no sentido pejorativo,
Adam Smith ("Inquérito sobre a Riqueza das Nações") tinha alguma
razão, há 230 anos, quando dizia haver uma (famigerada) "mão
invisivel" do mercado, neste caso, do mercado da comunicação
"social", digo, comercial...
Yves Clot ("em A Função Psicológica
do Trabalho") tem toda a razão quando alerta para que (para o bem e para o
mal) "o trabalho tem um braço longo",... inclusive o trabalho de
jornalismo.
A OIT tem razão quando alerta, desde
sempre, há um século, sobre (para o bem e para o mal...) a "centralidade
social do trabalho".
Mas há uma palavra a destacar e inerente
pergunta e reflexão (e acção…) a fazer no título deste (excelente) artigo:
"Autodestruição".
“AUTO”: “destruição” ou reconstrução?
João Fraga de Oliveira
NOTA
(Esta nota é – julgo eu - especialmente
pertinente num blogue dedicado a leitores
que escrevem.
Porque aqui está um exemplo que talvez
(n)os leve a perguntar(mo-nos), mais uma vez, porquê, para quê, para quem … escrevem(os)?.
A perguntar(mo-nos quem (se) aproveita
do conteúdo (ou, pelo menos das ideias) do que escrevem(os) e, depois, deita o
resto para a “guilhotina” (como já escreveu o amigo Joaquim)?
A perguntar(mo-nos), “onde está” o
“pluralismo” e o “respeito pelos leitores que escrevem” de que nos falava o saudoso
Professor Paquete de Oliveira ?)
Fechado o parêntesis (à especial atenção
da Céu, para um próximo encontro…), saiamos dele, … ainda que com uma certa
sensação de desilusão (que tanto pode ser para com uma pessoa como para com um
jornal…).
Este texto foi enviado ao Público no
passado dia 12/1/2017, tendo muito em consideração estar então a decorrer,
desde esse dia (de 12/1 a 15/1/2017), o 4º Congresso dos Jornalistas. .
No mesmo dia, pelo registo de retorno do mail
de envio, foi lido pelo subdirector e director do Público (Vítor Costa e David
Dinis).
Mas, até à data, não foi publicado .
Será porque não convinha ser lido pelos
congressistas?...
Será porque se “auto-destruiu” ele
próprio, o texto, vítima da tal “auto-destruição”?
Ou será porque vinha reforçar uma NOTÍCIA
que é mais do que evidente, A CRISE DO JORNALISMO (e muito por causa da desvalorização do trabalho, da
precariedade e consequente (auto)condicionamento dos jornalistas pelas chefias
e administrações…)?
E, daí, será porque a sua não publicação reforça o que Umberto Eco
escreveu (2015) em “Número Zero”: “A questão é que os jornais não são feitos
para revelar mas para esconder notícias”?
Talvez seja mesmo, se não for por todas,
pelo menos por esta última razão .Do que não há melhor prova empírica do que o
director do Público entender que “não
faz sentido falar hoje de uma crise do jornalismo”????
Já respondi pessoalmente ao meu querido amigo João, juntando-lhe mais algumas considerações. Tenho alguma (pouca) esperança que o próximo encontro dos "leitores-escritores", em Março, produza algo sobre o jornalismo. Não somente criticando mas também olhando para nós como intervenientes e não como "umbigos acariciados... ou não".
ResponderEliminarGrato ao João.
Fernando Cardoso Rodrigues
texto publicado hoje no Público!
ResponderEliminarOra aí está! Boa razão para reflectirmos também sobre nós.
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