O trabalho de jornalista é muito importante e insubstituível
na sociedade atual. Eventualmente ainda mais que em tempos recentes. Porque o
jornalismo agora tem a companhia avassaladora e, para muitos, reverencial, das
redes sociais. Um poder que muitos tomam como adquirido e absoluto. E os
cuidados na separação do trigo do joio são quase nenhuns. A misturada é tão
grande que a importância e o poder do jornalismo deviam ser ainda mais
respeitados e acarinhados. É o jornalista que pode e deve fazer o trabalho
honesto, imparcial e rigoroso. Contacta
as fontes, confirma e rebate informação. Não publica a primeira informação que
lhe chega. Tudo o que as redes sociais não fazem, porque escarrapacham
a cada instante e a eito. É preciso respeitar o trabalho do jornalista, dar-lhe
condições e estabilidade. O jornalista deve ser respeitado quer pela sociedade
quer pela entidade para que trabalha. Não sentir-se a mais, descartável, desconfortável,
precário. Mas os jornalistas pertencem a empresas que, sobretudo quando visam
apenas o lucro, decidem mais displicentemente sobre as suas vidas. Querem
emagrecer os seus quadros, despedem, indemnizam, rescindem, porque há crise e
os lucros baixam. A instabilidade instala-se. A amargura, o descontentamento, a
desmotivação, afetam a criatividade, o talento e o empenho. Todos os agentes
envolvidos na procura da quadratura deste círculo têm de fazer um esforço para
repensarem tudo isto e encontrarem um fundamento para o que vai mal. A sociedade
quer ou não um jornalismo sério, isento e fora de constrangimentos e pressões?
Quer ou não um jornalismo independente e livre de espartilhos mentais, de
autocensuras, dito de modo mais claro? Estas e tantas outras variáveis, para as
quais o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bem alertou, alto e
bom som, na abertura do 4º Congresso dos Jornalistas que agora decorre. Se se
costuma dizer que o jornalismo reflete a sociedade que temos, então se essa
sociedade atua num quadro com um determinado registo, com desemprego,
precariedade, trabalho muitas vezes desvalorizado e mal pago, empresas débeis e
com problemas de receitas, pressões, é um pouco natural que nas empresas de
comunicação social essa situação se reflita. O que é necessário é que haja da
parte dos jornalistas uma resistência a tudo o que possa pôr em causa a sua
nobre tarefa. Ou seja, não desistir, não abdicar, não vergar na nobre missão
desta profissão que é informar, como referiu o PR. Nunca será um caminho fácil
e confortável, mas é essa resistência que importa manter e reforçar. Creio que
a sociedade quer um jornalismo vivo, forte e ativo, mas é bem capaz de ainda
não se ter dado conta disso. Para um jornalismo mais forte amanhã.
JOSÉ MANUEL PINA
Janeiro 2017
Editado e publicado no Público (por 2 vezes (?): 14 e 18 de
janeiro) e no Expresso de 14 de janeiro.
Bom o seu texto caro José, parabéns. Agora, o que é ABSOLUTAMENTE ESPANTOSO é facto do PÚBLICO o ter publicado duas vezes e, embora menos, o ter sido publicado também no EXPRESSO!!!! Pergunto-me onde está a verdade do primeiro jornal quando, não há muito pouco tempo dizia que "recebiam centenas de cartas por dia" (sic)e a pergunta que faço a mim mesmo há muito: é "lícito" enviar o mesmo texto a vários jornais na mesma data? À atenção da Céu Mota e do próximo encontro de leitores-escritores em Março!...
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