Nunca
votei Mário Soares em legislativas ou presidenciais. Tal não impede que hoje
esteja triste. Foi em 1973, ainda em ditadura de Salazar, que arrostei alguns
naturais incómodos para poder assistir a um comício da CEUD no Teatro Vasco
Santana em Lisboa. Até 1980, Soares foi indispensável na liderança política
portuguesa, face à ameaça comunista em Portugal. O PPD e o CDS, face ao
poderoso PCP de Cunhal, mesmo aliados que fossem, nada poderiam ter feito para
anular a ameaça totalitária que pairou no nosso País entre 1974 e Novembro de
1975. Só a coragem e a inteligência de Francisco Sá Carneiro, possibilitaram em
1980 a existência de uma alternativa ao comunismo, sem passar pelo PS de
Soares. Mas foi mais fácil a Sá Carneiro avançar, depois de Soares e o Grupo
militar dos Nove terem rechaçado as aventuras de Cunhal e seus aliados
militares. Não esqueço também o fantástico comício da Fonte Luminosa em Lisboa,
autêntico marco de protesto contra Cunhal. E na Marinha Grande, onde Soares
gritou a Cunhal e aos sindicatos comunistas que Portugal não era Moscovo.
Nesses duros tempos, era preciso coragem física, era preciso não desistir. E
Soares nunca desistiu de lutar pelas suas ideias, mesmo quando mal apoiado ou
mesmo sózinho. Chegou mesmo a cortar relações com amigos próximos (Zenha e
Alegre), quando entendeu que eles estariam errados. Foi um político que viveu
intensamente a política, como uma segunda pele. E nunca se queixou, que a
política era chata ou que fazia um sacrifício em servir o País. Desempenhou espinhosas
missões com alegria e optimismo. E como PR inaugurou um estilo presidencial que
contrariou a tese de que o PR em Portugal seria pela Constituição uma
"rainha de Inglaterra". No seu segundo mandato de PR usou (e abusou
até) dos seus poderes constitucionais para travar um combate de morte contra
Cavaco Silva, seu PM. Nunca tal se tinha visto em Portugal, um PM com maioria
absoluta ser travado e combatido pelo próprio PR. Mas ao fazê-lo inaugurou um
estilo e estabeleceu jurisprudência. Os que agora criticam o estilo de Marcelo
pela sua proximidade e popularidade junto das massas, revisitem as campanhas de
Soares pelo País e verão que este PR apenas seguiu o exemplo de Soares. Com o
passamento de Mário Soares morre um parte de Portugal, como o conheceu a minha
geração. Paz à sua alma.
OBS: Publicado na edição de 9/1/17 do jornal PÚBLICO
OBS: Publicado na edição de 9/1/17 do jornal PÚBLICO
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