quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

UMA BIBLIOTECA NA LINHA DE SINTRA




- Bom dia, tenho uns livros para oferecer à biblioteca. Estão num saco, no carro, já os vou buscar.
- Nós não aceitamos livros.
- Olhe que são bons livros. Praticamente todos são, eu só leio dos bons. Trato-os como seres vivos, tenho um grande apreço por eles.
- Já temos muitos.
- Mesmo assim. Não aceitam livros numa biblioteca?
- Não precisamos de mais livros.
- Têm tantas estantes por preencher. Olhe que os meus são garantidamente bons.
- Não queremos.
- Mas se calhar estes que vos quero oferecer, ainda não têm. É literatura juvenil. E alguns para adultos também.
- Não temos quem os cuide.
- Como assim?
- Não há quem os arrume, temos falta de pessoal que queira fazer estes trabalhos.
- Tente na Junta, mas eles lá não devem aceitar. Tente na mesma.
- Só por curiosidade: vem cá alguém requisitar livros para levar para casa, ou lê-los aqui?
- Não temos ninguém, estou todo o dia sozinha.
- E não a entristece, ver este sítio vazio?
- Já me habituei, e até aprecio o sossego. Passei vinte anos no balcão do atendimento, na Junta. Desgastei-me muito. Aqui faço a minha renda e não tenho reclamações. Gosto bastante de aqui estar.
- Um bom ano para si, minha senhora.
- Para o senhor também, e que todos os seus desejos se realizem.



4 comentários:

  1. Palavras para quê? É portugal no seu melhor. E nem sequer é lá nas berças, é na Grande Lisboa.

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  2. E dizem-nos que já não existem analfabetos. Desconfio que, nas berças - como disse o Francisco - já se lê mais que nas zonas ditas saloias.

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  3. Conheço uma história muito similar (para maior) passada com um amigo meu, em Trás-Os Montes, que felizmente acabou bem.

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