Seguida
por uma multidão, uma hora depois, a Praça do Chile era um mar de
gente que se espraiava pela Morais Soares acima até ao Alto de S.
João, onde a urna contendo o corpo da Álvaro Cunhal chegaria
passada outra hora. Tal a dificuldade em progredir no meio daquela
compacta mole humana que, sentida e vibrante, lhe rendia a derradeira
homenagem.
A
PSP, habitualmente comedida, avaliou em 100 mil pessoas. Seria o
dobro? 180 mil? 150 mil? Impossível saber-se. O que se sabe
exatamente, é que foi uma impressionante manifestação popular. O
maior funeral de que há memória neste país. E, logo agora, em que
o prestígio da classe política quase atinge o nível da sarjeta.
Inexplicável? De maneira nenhuma! É que, este povo, macambúzio e
malhadiço, também sabe ser justo, generoso e valente. Provámo-lo
ao longo dos oito séculos da nossa história. A ultima vez que nos
levantámos e fizemos um gesto lindíssimo, foi por outro, o de
Timor. E agora, não só os que estiveram nas ruas da nossa capital,
do Minho aos Açores e à Madeira, reconheceu-se a inteligência, a
tenacidade, o heroísmo, a total entrega de uma vida em prol dos
outros. Reconheceu-se um dos nossos maiores.
Mas,
tudo isto, não serão também sinais? Sinais de que estamos fartos.
Fartos de amargar e de tartufos. Não serão também sinais de que,
definitivamente, queremos mudar de vida?
Francisco
Ramalho
Corroios,
7 de Julho de 2005
Repare-se na data em que escrevi o texto...
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