O FUTEBOL E A NOSSA DURA REALIDADE
Acabou a euforia e a alegria do povo com a nossa participação no mundial. É assim o futebol. Normalmente, é na primeira parte que se perdem os jogos. Foi o que aconteceu agora contra a seleção de Marrocos. O empenho e a garra com que se disputou a segunda parte, devia ter sido logo desde o início. Depois, o discernimento, o sangue frio, dão lugar ao tudo por tudo, o tempo vai passando e a ansiedade aumentado. E o adversário que no caso presente, também tem muito mérito, claro, cerrou fileiras para manter a vantagem. E assim se perdem os jogos. Embora com dignidade.
Mas a alegria da vitória em qualquer competição desportiva, mesmo no “desporto rei”, é sempre efémera. Permanente, enquanto não a mudarmos, é a nossa dura realidade.
É a crise na Saúde com os hospitais a abarrotar, como o de São Bernardo em Setúbal, o Garcia de Orta em Almada e o do Litoral Alentejano em Santiago do Cacém, só para referir estes três na nossa região, com os dois primeiros a transferirem doentes para os de Lisboa, e depois, mesmo nas urgências, espera-se 10, 12, ou mais horas. É o custo de vida que está pela hora da morte, a natalidade que continua a baixar, pudera! Com a falta de trabalho para os jovens, a precariedade e os salários de miséria, quem é que quer constituir família e ter filhos? É a guerra na Ucrânia que em vez de esforços para se conseguir a paz com conversações e acordos, é armas e mais armas, fomentando-a com todas as desgraças que provoca, é até o tempo que, fruto das alterações climáticas, depois da prolongada seca, são as chuvas que são bem vindas, mas não assim tão intensas provocando estragos. Também porque as medidas preventivas para os minimizar, são permanentemente adiadas.
Enfim, é um rol de desgraças que o governo de maioria absoluta do PS em vez de as solucionar, agrava-as. Veja-se, por exemplo, face ao exposto, esta contradição dos aumentos escandalosos dos lucros dos grandes grupos económicos que no artigo de opinião da semana passada demos mais detalhes, o caso da TAP, essa grande empresa que, nacionalizada, pode e deve ser um dos símbolos de Portugal no mundo, mas que por má gestão, turbulência laboral e não só, definha. Ou ainda, os referidos graves problemas nos hospitais devido às más condições de trabalho dos seus profissionais e ao abandono do Serviço Nacional de Saúde a favor do privado.
Portanto, podíamos não ter ficado pelos quartos de final, podíamos até ser campeões do mundo, claro que seria a loucura, uma loucura boa, mas mesmo assim, efémera. Porque o essencial, é isto que referimos. O futebol é apenas “o mais importante das coisas menos importantes”, e o essencial, mantinha-se.
O futebol, pela desmesurada importância, a favor de alguns, do poder económico e político que os media lhe dão, submerge tudo. Até a compra deste mundial pelos “donos” do Qatar e os milhares de trabalhadores mortos na construção dos estádios.
Uma Modalidade tão interessante! Por isso, também utilizada para alienar o povo.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal "O Setubalense"
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