quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Paz, justiça e vingança


Não certamente por espírito natalício, cada vez mais se sentem vozes dispersas a entoar preces de apelo à paz na Ucrânia. Os ímpetos vêm de origens que, não há muito, seriam altamente improváveis. Do Ocidente, sobretudo dos EUA, que sabem que as guerras actuais não são só de atirar carne para canhão, e que, por isso, “custam os olhos da cara”, e do Oriente, aqui predominando a China e a Índia, por razões igualmente prosaicas, ciosas que são dos seus interesses comezinhos ligados ao comércio e à saúde das suas próprias economias. A Oeste (e também a Leste), nada de novo…

Se a ideia de paz é inatacável a todos os títulos, excepto para os que muito ganham com a sua ausência, outros conceitos que lhe possam vir “agarrados”, como o da justiça, permitem leituras menos esclarecidas. Vejo com muita frequência quem pugne pela justiça, pensando apenas em vingança. Sem se dar conta de que são coisas muito diferentes.



2 comentários:

  1. "A Oeste (e também a Leste), nada de novo…"
    Sintomaticamente, a sua referência ao papel da Europa neste conflito (assim interpretei) termina em reticências. Procurei, no seu mais do que sensato texto, uma resposta à pergunta que já fiz neste "blog" noutro lugar sem grande sucesso: o que podemos fazer, europeus que somos, para alcançar uma solução duradoura para este conflito que grassa no meio de nós. E repare que não digo paz, porque as motivações das partes, e não estou a falar só dos beligerantes directos, parecem insanáveis. Não sei e por isso ando a perguntar a toda a gente, a si também.

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    1. Caro José Pombal,
      A sua pergunta é extremamente relevante. Tanto como as respostas que, ao que parece, vai obtendo por todo o lado. Haverá quem lhe saiba responder com a assertividade que deseja? Duvido.
      Ainda assim, sem pretensão de esgotar o assunto, até por incapacidade própria, vou-lhe referir alguns dos tópicos que dominam a minha agenda mental, mas, antes, começar pela minha referência ao “Oeste”, que, como certamente reparou, não passa de uma citação de Erich Maria Remarque. Glosei o tema, se calhar de forma demasiadamente gratuita…
      Quanto ao resto, devo dizer que, para se entender convenientemente todo este terrífico assunto em que os ucranianos se viram envolvidos, é necessária muita informação que, com toda a certeza, eu não domino em absoluto. Por mais que investigue… A começar pela História que, neste caso concreto, me parece fundamental, mesmo deitando para o lixo muitas das “reescrituras” que se têm vindo a fazer, a começar pela de Putin, que, de resto, não será a única.
      Depois, temos a informação que nos vai chegando. Com raríssimas excepções, aquela a que tenho acesso via TV, e mesmo pela rádio, causa-me náuseas de intensidade variável. Quanto à escrita, a que normalmente dou maior credibilidade, cinjo-me, na prática e pela finitude do tempo disponível, ao Público e, em menor medida, ao Expresso, ambos me possibilitando, por vezes, acesso indirecto a alguma imprensa estrangeira.
      E, afinal, o que é que eu vejo? Há muitos interessados neste estado de coisas que, por incrível que pareça, se chama guerra. Não esqueçamos que, sem qualquer pudor, o “Ministro da Defesa” americano chegou a dizer que o objectivo principal era enfraquecer a Rússia. Será uma visão estratégica defensável, sem dúvida. Mas, o que dizer da visão estratégica europeia, durante o longo e incensado “consulado” de Angela Merkel, incontestada “dona e senhora” da UE, que preconizava que o interesse geral era a “captura”, a bem, de Moscovo para o seio europeu, a que, aliás, a Rússia pertence, digo eu, por direito próprio?
      Voltando à sua pergunta, digo-lhe, com toda a sinceridade: não lhe sei responder. Se, porventura, me tivesse feito a pergunta pela negativa, isto é, o que é que nós, europeus, NÃO devemos fazer neste conflito, eu teria a veleidade de lhe responder com a máxima assertividade possível: “isto que a UE está a fazer”.
      Porquê? Porque pressinto uma Europa meio dividida, no futuro pós-guerra da Ucrânia, sedenta de alguma equidistância, chamemos-lhe “comercial”, entre os EUA e a China, e que vai pagar à exaustão todo o desvario de quem quis a guerra, sejam russos, sejam americanos. Sim, porque foram eles que a quiseram e, sem vergonha, nos vão fazer pagar todos os estragos naquela parcela da Europa que se chama Ucrânia. Todos os estragos, não, porque as vidas, e são tantas, não têm preço.

      Aproveito a oportunidade para lhe desejar, bem como a todos os intervenientes neste blogue, seja a título de “escreventes”, comentadores ou simplesmente “espreitadores”, um novo ano mais feliz do que aquele que agora acaba. E, para isso, não há-de ser preciso muito!

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