A
INTELIGÊNCIA EM RELAÇÃO À PERSONALIDADE INTEIRA
Ao fazermos
juízos práticos nunca isolamos completamente a inteligência do resto da
personalidade. Os juízos práticos tratam da vida, e, na vida, o organismo
funciona como um todo. Uma parte constituinte, raramente ou mesmo nunca se
encontra a agir em completo isolamento do resto. É somente numa análise abstracta
e não na vida que a inteligência pode ser separada de outros elementos, psicológicos
e fisiológicos, da personalidade inteira.
A maneira
como a inteligência é aplicada, é determinada, em grande parte, pelo estado do
corpo, pelos instintos, as emoções e aqueles sentimentos compostos organizados
em todo o indivíduo pela influência da tradição e educação agindo sobre o
material psicológico nativo. A maneira como a inteligência é aplicada depende,
numa palavra, da saúde e do carácter. Todos estamos familiarizados com a pessoa
inteligente que não faz nenhum uso dos seus talentos, devido a alguma fraqueza
de impulso, alguma impotência de emoção, algum defeito na vontade ou falha no
seu desenvolvimento.
Em muitos
casos, um defeito fisiológico acompanha ou determina talvez estas fraquezas
espirituais, que são muitas vezes remediadas quando a saúde melhora. Muito,
também, depende do temperamento físico do indivíduo. O temperamento(e com ele a
maneira como a inteligência é usada) pode ser alterado por mudanças de ambiente
implicando modificações no funcionamento, até então normal, das glândulas dúcteis.
Durante a
guerra, por exemplo, muitos homens que tinham até então levado vidas recatadas
e sedentárias “descobriram” as suas adrenais, e descobrindo-as, mudaram o seu
temperamento e a modalidade da sua inteligência. É, repito, somente em
abstracto, que podemos discutir as variedades de inteligência sem considerarmos
as variedades das outras constituintes da personalidade físico-psiocológica.
Na prática
existe toda a diferença deste mundo entre duas inteligências intrínsecamente
semelhantes, uma das quais sucede estar ligada a um organismo mental e corporal
que é saudável, activo e bem treinado, a outro com um organismo mal treinado,
doentio e inactivo. Quando chega a altura de fazer aplicações práticas, estas
diferenças de efectividade entre inteligências semelhantes serão, sem dúvida,
tidas em consideração.
NOTA – Texto de
Aldous Huxley, transcrito por
Amândio G.
Martins
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