quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

DOS PENSADORES

                                                          TIPOS EXTRAVERTIDOS
Certos tipos de extravertidos não são para mim menos incompreensíveis do que os introvertidos. O homem  realmente sociável que só é felizmente ele próprio quando está acompanhado, é para mim uma figura muito misteriosa. Que uma pessoa seja capaz de viver sem intimidade e solidão afigurasse-me extraordinário. E como acho repulsiva a filosofia que é a racionalização da paixão da visão extrerior desta gente para com os seus semelhantes!
É uma filosofia que exalta a multidão à custa do indivíduo, que torna a felicidade sinónimo dos prazeres sociais, que explica a moralidade individual exclusivamente em termos da necessidade social, que faz da religião, principalmente, uma actividade comunitária. As premissas maiores desta filosofia são de uma tal natureza que nunca me ocorreria a mim escolhê-las e, embora as compreenda intelectualmente, falta-me toda a compreensão viva e simpatizante do seu significado.
Não há que discutir sobre os gostos; e, igualmente, não há que discutir, depois de chegar a um certo ponto, sobre as razões. As únicas teorias sobre as quais é possível discutir com alguma esperança de se chegar a uma conclusão definitiva, são as que podem ser directamente comprovadas pela experiência.
Outro tipo de extravertido pronunciado, cuja perspectiva da vida acho impossível de compreender excepto teoricamente, é o tipo de homem que vive para as sensações de preferência às ideias e emoções. Para estas pessoas, a pura sensação é tão encantadora, e parece na sua intensidade tão significativa, que o cultivo das sensações é um fim completamente satisfatório em si próprio
O sensualista meramente animal é um indivíduo grosseiro e apagado, de quem não vale a pena falar. O espécime interessante deste tipo é um esteta refinado e consciente, que é suficientemente inteligente para ter o desejo e a força para racionalizar o seu amor às sensações, numa filosofia. A moralidade para este sensualista requintado é um ramo da estética. Admira a religião, somente pelos seus adornos – porque o rito religioso é uma espécie de ballet ou uma charada espectacular.
A arte é roubada do seu significado filosófico e artístico e reduzida a uma questão de estética pura; ele exalta-a, apesar de tudo, como a mais importate das actividades humanas. As próprias ideias, se forem cultivadas, são tratadas como se fossem uma espécie de sensações. A filosofia torna-se francamente uma arte.

NOTA – Texto de Aldous Huxley, transcrito por

Amândio G. Martins

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