TIPOS EXTRAVERTIDOS
Certos tipos
de extravertidos não são para mim menos incompreensíveis do que os
introvertidos. O homem realmente
sociável que só é felizmente ele próprio quando está acompanhado, é para mim
uma figura muito misteriosa. Que uma pessoa seja capaz de viver sem intimidade
e solidão afigurasse-me extraordinário. E como acho repulsiva a filosofia que é
a racionalização da paixão da visão extrerior desta gente para com os seus
semelhantes!
É uma
filosofia que exalta a multidão à custa do indivíduo, que torna a felicidade
sinónimo dos prazeres sociais, que explica a moralidade individual
exclusivamente em termos da necessidade social, que faz da religião,
principalmente, uma actividade comunitária. As premissas maiores desta
filosofia são de uma tal natureza que nunca me ocorreria a mim escolhê-las e,
embora as compreenda intelectualmente, falta-me toda a compreensão viva e
simpatizante do seu significado.
Não há que discutir
sobre os gostos; e, igualmente, não há que discutir, depois de chegar a um
certo ponto, sobre as razões. As únicas teorias sobre as quais é possível
discutir com alguma esperança de se chegar a uma conclusão definitiva, são as que
podem ser directamente comprovadas pela experiência.
Outro tipo de
extravertido pronunciado, cuja perspectiva da vida acho impossível de
compreender excepto teoricamente, é o tipo de homem que vive para as sensações
de preferência às ideias e emoções. Para estas pessoas, a pura sensação é tão encantadora,
e parece na sua intensidade tão significativa, que o cultivo das sensações é um
fim completamente satisfatório em si próprio
O sensualista
meramente animal é um indivíduo grosseiro e apagado, de quem não vale a pena
falar. O espécime interessante deste tipo é um esteta refinado e consciente,
que é suficientemente inteligente para ter o desejo e a força para racionalizar
o seu amor às sensações, numa filosofia. A moralidade para este sensualista
requintado é um ramo da estética. Admira a religião, somente pelos seus adornos
– porque o rito religioso é uma espécie de ballet ou uma charada espectacular.
A arte é
roubada do seu significado filosófico e artístico e reduzida a uma questão de
estética pura; ele exalta-a, apesar de tudo, como a mais importate das
actividades humanas. As próprias ideias, se forem cultivadas, são tratadas como
se fossem uma espécie de sensações. A filosofia torna-se francamente uma arte.
NOTA – Texto
de Aldous Huxley, transcrito por
Amândio G.
Martins
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