Teceram-se loas a Mário Soares na comunicação ouvida, vista e lida. Do seu socialismo, só ares... já que o fechou na gaveta. Dizem-nos que «foi o pai da democracia». Não lhe reconheço a paternidade, omitindo-se-lhe a paternidade dos contratos a prazo que foi um euromilhões para patrões.
Estive 7 anos contratado, assim como milhões de trabalhadores - ad eternum... Numa das suas primeiras magistraturas, os salários em atraso
multiplicaram-se, dramatizando a vida de muitas, muitas famílias, tragédia que parecia interminável. Lutou contra o social-imperialismo soviético,
entregando-nos ao imperialismo norte-americano. Teria sido importante uma política de não alinhamento. Do discurso da Fonte Luminosa, contra
a 'sovietização' do país, aliou-se com a retrógrada hierarquia católica e militares direitistas, abrindo as portas ao 25 de Novembro, cujos resultados
nefastos aí estão. Privilegiou sempre acordos de regime com a direita - o bloco central de interesses, que tanto destratou e prejudicou os
trabalhadores. Primeiro responsável da eleição de Cavaco a PR, pois a candidatura de Manuel Alegre já estava no terreno. Posteriormente, ao apresentar-se como candidato a Belém, fracturou e dividiu o apoio a Alegre.
Homem culto, amigo dos livros e dos escritores, escrevia de forma inteligível e certeira. No último estádio da sua vida, já retirado, os seus artigos
de opinião foram contundentes e verdadeiros libelos contra o desgoverno malfeitor do PSD-CDS e Cavaco. Teria sido interessante que tivesse
concretizado, enquanto governante, algo do que escreveu. A robusta e consolidada bagagem cultural de Mário Alberto Nobre Soares, leva-nos a pensar que o seu desaparecimento físico é como - ter ardido uma biblioteca.
artigo de opinião de Vítor Colaço Santos
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