quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

AS PRIVATIZAÇÕES E AS SUAS LIÇÕES





Bastava ler a edição da passada semana deste jornal, para se ter uma ideia das consequências das privatizações. É o Conselho de Administração dos CTT que pretende fechar 22 balcões e despedir mil trabalhadores, e é o ministro das Finanças que, finalmente, passados tantos anos de luta persistente das populações, dos autarcas da região, das Comissões de Utentes da saúde e de deputados eleitos pelo distrito, nomeadamente os do PCP, desbloqueia 1 milhão de euros para o início do projeto de construção do hospital no Seixal. Tudo isto, ainda sem fim à vista, ou seja, sem previsão para quando estará pronto o hospital, apesar do principal da região, o Garcia de Orta em Almada, e dos poucos e exíguos Centros de Saúde ,estarem desde há muito, a rebentar pelas costuras.
Pensarão alguns dos meus prezados leitores, o que é que uma coisa tem a ver com a outra, e a construção do hospital com as privatizações. Tem tudo, amigos! É que, para se construirem hospitais, como diria La Palisse, é preciso carcanhol. E se ele vai aos milhões para o bolso dos principais acionistas dos CTT, da PT, da Galp, dos bancos, das seguradoras, das transportadoras, enfim, dos sectores vitais da economia deste país que foram privatizados, não vai para os cofres do Estado. Logo, este, não tem esse dinheiro para construir hospitais e não só. E depois, como se sabe, o capital além de não ter pátria nem alma, muito menos tem coração. Se não, vejamos o caso dos CTT; tal como nos informou aqui o “O Seixalense” na edição referida em dois elucidativos trabalhos. Um assinado pela jornalista da casa, Ana Martins Ventura e o artigo de opinião de Hugo Constantino, da Comissão Concelhia do Seixal do PCP, dos 22 balcões que os gestores dos agora privatizados CTT, pretendem fechar, um deles, é o de Paio Pires. Apesar de servir 15.000 pessoas, (11% das quais com mais de 65 anos) de o balcão mais próximo ser na Torre da Marinha, e de ter um lucro anual de 45.000 euros. Portanto, como se constata, os senhores que mandam agora nos CTT, estão-se marimbando para as populações e para os trabalhadores. O que lhes interessa, é ainda mais lucros.
Esta é uma das lições que podemos e devemos tirar das privatizações. Outra, é quando os defensores e beneficiários das privatizações, uma ínfima minoria, nos dizem que o Estado não tem vocação de gestor,é mau gestor. Tal argumento é não só um mito, como uma monumental mentira. Veja-se o que se passou, por exemplo, com o BES. Mesmo depois do Estado (todos nós contribuintes) lá ter enterrado tantos milhões. O mesmo com o BPN. Ou ainda com empresas da dimensão da PT que também para além de irem parar a mãos privadas estrangeiras, quase colapsaram. Também com os CTT, a degradação dos serviços que prestam atualmente.
Tantas outras conclusões/lições poderemos tirar do resultado das privatizações. Finalizo com estas duas mais que óbvias, mas que parece, para tanta gente, não o serem: as privatizações têm responsáveis; chamam-se, PS, PSD e CDS. Mas estes partidos foram/são eleitos… E há outros partidos! O mais representativo destes últimos, até sempre foi a favor das nacionalizações e contra as privatizações.
Condição essencial para um país bem mais desenvolvido e justo, é que a sua economia assente em 3 pilares fundamentais: O público, o cooperativo, e o privado. Dos 3 partidos responsáveis pelas privatizações, dois deles, o CDS e o PSD, abominam os dois primeiros pilares. O PS, também é alérgico ao primeiro. Quanto ao segundo, a sua posição, é nim.
Francisco Ramalho

Corroios, 19 de Janeiro de 2018

Publicado na edição de 23 a 30/1/18 do semanário "O Seixalense"

3 comentários:

  1. Concordo inteiramente consigo em que a privatização dos CTT foi um erro que englobou dois: um de princípio e outro gestionário. E o primeiro é imperdoável pois foi o de "uma morte anunciada" pois já se sabia ao que vinham os compradores: ao segundo,por razões não tão obscuras assim pois estão agora à vista.
    Dito isto, uma posição de princípio: saúde, educação, transportes públicos e água, devem ser predominantemente (estruturalmente) públicos e só complementarmente privados. Economias liberais "à outrance" ou totalmente estatizadas só levam a uma de coisas: desprezo social pelos que não podem pagar ou coartação da liberdade noutros lados da vivência humana, respectivamente.
    Em jeito de rodapé, uma nota sobre o PS: deu uma cravo ( caso dos colégios privados) e estava a dar outra na "ferradura" no SNS (espero que ainda vamos a tempo com a proposta da nova lei de bases). Há quem lhe chame "polivalência" mas tenho receio que seja somente "ambivalência". A ver vamos.

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    1. Aos quatro referidos no início do segundo parágrafo, junto um quinto: a energia.

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  2. Os accionistas das grandes companhias privadas nunca pensam nas populações que se comprometeram servir, e muito menos nos trabalhadores que fazem as empresas progredir. O que para eles é importante é o dividendo; e se para este engordar for necessário mandar para a rua centenas ou milhares, faça-se!

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