Arrivistas deslumbrados
Conheci o homem no ambito da minha actividade profissional;
deslocava-se numa carripana de caixa aberta, vestimenta salpicada de argamassa,
e não poderei dizer que me deixou má impressão pessoal, além de que tenho
imenso respeito por quem se agarra ao
trabalho, que foi o que também sempre fiz.
Entretanto, alavancado naqueles processos que, em muitos
casos, deram aos bancos “imparidades”
que os puseram nos “cuidados intensivos”, a carripana depressa deu lugar a
carros de alta gama e os mamarrachos ostentando a placa da sua firma nasciam por todo o lado.
Todavia, nunca se proporcionou qualquer oportunidade de
negócio até que, a certa altura, lhe surgiu um empreendimento cujo cliente lhe
exigia produtos da marca que eu representava, para o que se programou uma
entrevista com ele, o seu cliente e eu, tendo ficado tudo acertado.
Comprometi-me com o proprietário a ir acompanhando o
andamento dos trabalhos, só que um seminário em Lisboa afastou-me por alguns
dias e, quando lá voltei, verifiquei logo que tinha havido mixórdia, com muita
área acabada para tão pouco produto usado...
E como, do meu lado, o problema era bem mais sério do que
perder uma fatia do negócio para a “candonga”, dado que o dono contava com o
nosso prestígio como garantia, levei o assunto a sério, informei o proprietário
do que se passava e que, num tal quadro, não podíamos ser responsabilizados por
qualquer anomalia.
Desconheço que garantias o habilidoso assumiu com o cliente,
dado ter-me afastado do assunto e este ter desistido de me questionar; mas, uns
dias depois, recebi do sujeito um telefonema a prevenir-me que tivesse cuidado
quando, na estrada, me cruzasse com os seus camiões...
Mais tarde, já livre daquele tipo de gente, vi pelos jornais
que o figurão tinha assumido a presidência de um clube da primeira Liga de
futebol, facto que lhe permite ir gozando do estatuto de figura pública
enquanto que, nas empresas, os empregados passaram o Natal sem salário nem subsídio
e assim continuam, como foi noticiado no JN. E isto é tanto mais estranho
quanto os verdadeiros empresários que operam
nessa área se manifestam cada vez mais optimistas.
Amândio G. Martins
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