Do picaresco da política

 

Foi ontem aprovada, no Congresso espanhol, uma Reforma Laboral arrancada a ferros pela ministra do Trabalho, Yolanda Diaz, que conseguiu pôr de acordo confederações patronais e sindicatos, um feito que, só por si, deveria ser suficiente para não haver polémica na sua aprovação; todavia, como a Direita tem como primeiro objectivo da sua acção política “echar a Sánchez de la Moncloa”, nada que o possa favorecer tem o seu voto favorável, indiferentes se quem perde é o chefe do Governo ou Espanha.

 

Assim, como os independentistas catalães também se uniram à Direita nesta votação, os mais interessados em que a lei passasse moveram montanhas para juntar os votos necessários, e chegaram à hora de votar com a coisa por um fio a seu favor, podendo qualquer imprevisto anular todo o esforço realizado; e foi o que quase aconteceu, porque dois votos dados como garantidos, de um dos muitos grupelhos com poucos deputados, estes decidiram contrariar a orientação do partido e votaram contra.

 

Daí resultou que a presidente do Parlamento, Meritxel Batet, chegasse mesmo a anunciar “derrogada la Reforma Laboral”, dando origem à estupefacção do Governo e a uma explosão de aplausos e abraços nas bancadas das Direitas, excluindo “Ciudadanos”, que por andarem de candeias às avessas com os Populares, votaram a favor.

 

Mas estava para vir o mais caricato, com os serviços de apoio do Congresso a corrigirem a presidente, que interveio de novo para anunciar que aquela reforma ficava aprovada por um voto a favor; e quando se soube que esse voto tinha vindo de um deputado do P. P. que, por estar confinado, votou telematicamente e ter-se-á enganado, então deu-se o “estardalhaço” ao contrário, com a exuberância do lado do Governo e seus apoiantes e vivos protestos do outro lado...

 

Amândio G. Martins