terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

APELO TELÚRICO

                                                              O CHAMAMENTO DA TERRA
“Um homem de 65 anos morreu, quando o tractor agrícola que conduzia capotou num terreno onde estava a trabalhar”, noticia o JN de hoje.
Mas é raro o dia em que não vem no jornal a notícia de mais um idoso que morre debaixo do seu tractor. E esta verdadeira hecatombe não vai parar, porque são eles, estes verdadeiros heróis da terra, quem ainda vai mantendo cultivados os campos das nossas aldeias mais remotas.
Coube-me em partilha um olival que sempre conheci com aquele porte, tronco grosso e braços enormes, certamente com algumas centenas de anos, cuja azeitona foi aproveitada quando os habitantes de uma aldeia se auxiliavam mutuamente, no cultivo e nas colheitas, ajudando agora eu o meu vizinho, para logo de seguida me ajudar ele, costume que se foi perdendo por falta de gente e consequente mudança de hábitos.
Do que resultou grande parte do olival da minha aldeia se ter transformado numa excelente “melroeira”, pois são sobretudo os melros que tiram partido do esconderijo formado pelas viçosas heras que tomam conta da árvore toda, por falta de poda e limpeza geral, já que o valor do azeite colhido fica muito aquém dos custos da colheita.
Há uns tempos, olhando para as minhas oliveiras, pus-me a tentar adivinhar a sua idade(200-300 anos?)e a imaginar o sentimento daquele meu antepassado que as plantou, se agora pudesse ver o estado em que estavam, e decidi fazer eu mesmo uma intervenção de alto a baixo em cada uma, começando por cortar os galhos de mais difícil acesso, desencravar dos troncos as heras que tolhiam a árvore e limpar os musgos.
Depois de libertar completamente a primeira árvore daquela vestimenta de parasitas, ganhei-lhe o gosto e fiquei ainda  mais motivado para continuar até ao fim, perante o bater com o dedo na testa daqueles a quem não motivam outros valores que não sejam os míseros euros da sua submissão diária, ao verem-me empoleirado para fazer uma coisa para a qual não descortinam valor à vista, e admiração sincera de outros, lá concluí a “empreitada” que me propus e, contemplando no fim a obra acabada, fiquei contente comigo…
Para deixar a coisa “nos trinques”, ainda apliquei a pincel de caiar uma demão de “calda bordalesa”, bem esfregada nos interstícios da casca, para que tão cedo musgos e heras se não atrevam a apoderar-se de novo das minhas queridas oliveiras! Se esta romântica “aventura” tiver motivado os demais a olharem com outros olhos para o seu olival, e são muitos, já terá valido a pena...


                                        Amândio G. Martins

3 comentários:

  1. Muito sabedor me saíu, meu Caro Amigo deste 'nosso' sítio de bem (ou mal) escrever a toda a sela. Eu, pouco sabedor, também vou tratando do pouco (muito) que os MEUS me deixaram. Faço-o como sei, e como posso.
    Um abraço

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  2. Só conhecimento empírico, senhor Amaral, que tais cuidados também não requerem um técnico especializado...

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    1. ... 'não requerem um técnico especializado ...' . Perante os donos da união europeia todos temos de ser altamente qualificados, mesmo para nada fazer.

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