O CHAMAMENTO DA TERRA
“Um homem de
65 anos morreu, quando o tractor agrícola que conduzia capotou num terreno onde
estava a trabalhar”, noticia o JN de hoje.
Mas é raro o
dia em que não vem no jornal a notícia de mais um idoso que morre debaixo do
seu tractor. E esta verdadeira hecatombe não vai parar, porque são eles, estes
verdadeiros heróis da terra, quem ainda vai mantendo cultivados os campos das
nossas aldeias mais remotas.
Coube-me em
partilha um olival que sempre conheci com aquele porte, tronco grosso e braços
enormes, certamente com algumas centenas de anos, cuja azeitona foi aproveitada
quando os habitantes de uma aldeia se auxiliavam mutuamente, no cultivo e nas
colheitas, ajudando agora eu o meu vizinho, para logo de seguida me ajudar ele,
costume que se foi perdendo por falta de gente e consequente mudança de
hábitos.
Do que
resultou grande parte do olival da minha aldeia se ter transformado numa
excelente “melroeira”, pois são sobretudo os melros que tiram partido do
esconderijo formado pelas viçosas heras que tomam conta da árvore toda, por
falta de poda e limpeza geral, já que o valor do azeite colhido fica muito aquém
dos custos da colheita.
Há uns
tempos, olhando para as minhas oliveiras, pus-me a tentar adivinhar a sua
idade(200-300 anos?)e a imaginar o sentimento daquele meu antepassado que as
plantou, se agora pudesse ver o estado em que estavam, e decidi fazer eu mesmo
uma intervenção de alto a baixo em cada uma, começando por cortar os galhos de
mais difícil acesso, desencravar dos troncos as heras que tolhiam a árvore e
limpar os musgos.
Depois de
libertar completamente a primeira árvore daquela vestimenta de parasitas,
ganhei-lhe o gosto e fiquei ainda mais
motivado para continuar até ao fim, perante o bater com o dedo na testa
daqueles a quem não motivam outros valores que não sejam os míseros euros da
sua submissão diária, ao verem-me empoleirado para fazer uma coisa para a qual
não descortinam valor à vista, e admiração sincera de outros, lá concluí a “empreitada”
que me propus e, contemplando no fim a obra acabada, fiquei contente comigo…
Para deixar a
coisa “nos trinques”, ainda apliquei a pincel de caiar uma demão de “calda
bordalesa”, bem esfregada nos interstícios da casca, para que tão cedo musgos e
heras se não atrevam a apoderar-se de novo das minhas queridas oliveiras! Se
esta romântica “aventura” tiver motivado os demais a olharem com outros olhos
para o seu olival, e são muitos, já terá valido a pena...
Amândio
G. Martins
Muito sabedor me saíu, meu Caro Amigo deste 'nosso' sítio de bem (ou mal) escrever a toda a sela. Eu, pouco sabedor, também vou tratando do pouco (muito) que os MEUS me deixaram. Faço-o como sei, e como posso.
ResponderEliminarUm abraço
Só conhecimento empírico, senhor Amaral, que tais cuidados também não requerem um técnico especializado...
ResponderEliminar... 'não requerem um técnico especializado ...' . Perante os donos da união europeia todos temos de ser altamente qualificados, mesmo para nada fazer.
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