Há 41 anos que a Constituição da
República Portuguesa define no seu capítulo III, artigos 73.º e seguintes, o
direito à educação e ao ensino. É inadmissível e uma vergonha, que após mais de
40 anos, persistam tantos problemas e que os mesmos quase se repitam
sistematicamente, no início de cada ano lectivo.
Foram incompetentes, os
primeiros-ministros e os seus ministros da educação, durante as últimas quatro
décadas? Claro que não. A razão fundamental para tal estado de coisas, foi que
os governos do PS e PSD, com ou sem CDS, tiveram como prioridade fundamental
facilitar os negócios capitalistas na Educação, em vez de cumprirem e
desenvolverem o que estabelece a Constituição quanto ao ensino público.
Em vez de valorizarem a educação,
promovendo uma escola pública e de qualidade, acesso ao pré-escolar a todas as
crianças a partir dos três anos, gratuidade de livros no ensino obrigatório,
ensino universitário sem propinas, reforço da acção social escolar, construção
de suficientes escolas públicas e impedir a degradação das existentes. O que
PS, PSD e CDS fizeram foi preocupar-se, sobretudo, em criar condições para a
proliferação de universidades e colégios privados, centros de estudo e de
explicações.
Em vez de uma política que
melhorasse o acesso completo à educação, dotando-a dos meios necessários, desde
professores, técnicos especializados e assistentes operacionais. O que PS, PSD
e CDS fizeram foi insistir na precariedade de professores, mantendo situações
de insustentável separação familiar, diminuindo o número de auxiliares de
educação e desvalorizando as suas funções.
O actual governo do PS, por força
do seu compromisso com PCP e BE, tomou timidamente medidas que diminuíram
algumas das insuficiências e abusos existentes. Foi anunciada agora a admissão
de 1500 auxiliares de educação, esperando-se que não estejam incluídos os mais
de setecentos tarefeiros que escolas irão contratar para cuidar de crianças,
conforme noticiou a comunicação social.
Mas na educação e ensino, também
tem que ser interrompida a política de direita seguida nas últimas quatro
décadas, passando-se a cumprir e a desenvolver o que estabelece a Constituição
da República, de modo a assegurar uma escola pública gratuita e de qualidade.
Só assim será possível inverter situações negativas que se mantêm, como o
abandono e insucesso escolar, a de mais de um terço dos estudantes que não termina
o ensino secundário e o aumento do número de jovens que não estuda nem
trabalha.
Publicado no Jornal de Notícias de 05.10.2017, com o título «A educação que devíamos ter», e com alguns cortes, mas mantendo no essencial o sentido e objectivo do texto.
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