domingo, 4 de outubro de 2020

Mais poesia

 

Divina Comédia

 

 

Erguendo os braços para o céu distante

E apostrofando os deuses invisíveis,

Os homens clamam: - “Deuses impassíveis,

A quem serve o destino triunfante,

 

Porque é que nos criastes?! Incessante

Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,

Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,

Num turbilhão cruel e delirante...

 

Pois não era melhor na paz clemente

Do nada e do que ainda não existe,

Ter ficado a dormir eternamente?

 

Porque é que para a dor nos evocastes?”

Mas os deuses, com voz ainda mais triste,

Dizem: - “Homens! Porque é que nos criastes?”

 

 

Antero de Quental

 

Transcrito por Amândio G. Martins

 

 

 

5 comentários:

  1. Pois... Só que, tendo-se suicidado, porque já não suportava mais a vida tira, a meu ver, muita força ao que escreveu...

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  2. Penso que lhe terá faltado a fé que o ajudaria a resistir aos demónios que o atormentavam...

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    Respostas
    1. Dava "pano para mangas". Mas "a fé é que nos salva", dirá o senhor... Mas, salva de quê, direi eu...

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