domingo, 25 de outubro de 2020

 

POBRE FUTEBOL !…


O futebol é uma modalidade desportiva tão interessante! Sou do tempo em que era o desporto dos pobres. A miudagem, mesmo descalça e com bolas de trapos, divertia-se à grande. Os que tinham uma de borracha, eram uns felizardos. E, claro, davam-se ao luxo de escolherem a equipa. Por isso, ganhavam sempre, e o jogo terminava quando eles queriam… até levarem a bola!

Treinei nos principiantes do Coruchense, mas como já tinha de bulir (nesse tempo, infelizmente, não se falava em trabalho infantil), morava longe, e a minha mãe não alinhava em futebóis, lá se perdeu um grande defesa direito (gaba-te cesto!) . Ou um médio. Também gostava de jogar nessa posição; distribuidor de jogo.

Dizem que era um bocado sarrafeiro, mas não era por mal. Ia à bola! Se calhar nem sempre… Depois fui para a Marinha. Uma vez, no campo do Vila-franquense, a cortar uma bola ao meu amigo Ismael que vinha lançado, tropeçou na minha perna direita, caiu mal e partiu um braço. Foi a pior coisa que me aconteceu no futebol. Coitado do Ismael! Há tempo que não o vejo (morava ali para Cacilhas). Pela vigésima vez, desculpa lá, ó Ismael! Embora saiba que há muito me desculpou. Na altura, não! Compreende-se...

Foi num jogo dos Fogueiros/Condutores de Máquinas contra os Abastecimentos. As duas melhores equipas do Grupo Nº 1 de Escolas da Armada. Utilizava-se o campo do Vila-franquense. Depois joguei em diversas equipas populares.

Tantas histórias… uma vez, num torneio de futebol de salão dos bancários de Almada contra o Sotto Mayor… Outra, no campo do Monte da Caparica, alinhava pelo “Leões do Laranjeiro”, aí fui eu a vítima. Ainda hoje tenho um lenho, a marca, na canela direita. E termino com esta: tinha uns 12 ou 13 anos, fomos jogar à Aiana de Cima, ganhámos, houve sururu, fomos corridos à pedrada até quase ao Zambujal. Depois, com reforços, contra-atacámos e foram eles corridos até à Aiana. Tudo isto, era a inocente paixão do futebol. Que maravilha!

Lembro-me, deste slogan referente ao Eusébio : “ A pantera negra que vale 2 mil contos!”. Agora valia muitos milhões. Tantos, que, por isso, pela mercantilização do futebol e não só, deixei de passar cartão ao seu putrefacto mundo. Fui benfiquista. Agora não sou nada, mas continuo a gostar de futebol e dar uns toques quando calha.

A propósito, e foi isto que me levou a escrever este arrazoado, já sabem a última? O Pinto meteu-se com o Varandas, e este, chamou-lhe Bandido. Nem menos! Vejam onde isto chegou. Os presidentes de dois dos três maiores clubes cá do burgo. Como é que ainda há gente com juízo, que alinha nisto. Por paixão, claro! Como se sabe, também há paixões doentias…

Pobre mundo do futebol, ao que chegaste!

Desculpem lá a seca.

Hoje deu-me para isto.

Mas a seca podia ainda ser muito maior! Como devem imaginar, dava pano para mangas. Poupo-vos a mais.

Grande abraço a todos os amigos da bola, companheiros de equipa e adversários. Mesmo os da Aiana de Cima que, porventura, lerem isto.

Francisco Ramalho

Para a malta da briosa, os filhos da escola; o Farinha




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