É cada vez mais difícil descobrir alguém com carácter político genuíno que leve a sério as comemorações com aval governativo e presidencial, dos 50 anos do 25 de Abril. A actual vigência política não advém desta data, mas sim!, do golpe militar concretizado em 25 de Novembro de 1975. Porquê então as comemorações oficiais daquela gloriosa data? Porque a liberdade oficial que nos impingem é a liberdade da burguesia enriquecer exponencialmente e o proletariado
vegetar a caminho de ficar paupérrimo. Todos os acontecimentos pós-25 de Abril, quase 50 anos depois, continuam a servir de aferidor: «desvio ameaçador, aberrante e anárquico» - para
democratas, socialistas democráticos, social-democratas, liberais ou fascistas-democratas.
A voz dos simples e dos pobres era ouvida e começava a ter peso! O silêncio a que estes foram submetidos faz com que os sem-cautela julguem que aquele está desaparecido. O brilhante escritor e filosofo, Miguel de Unamuno, escreveu:'' A ira dos mansos e dos pobres é terrível!''.
O presidente, no âmbito das citadas comemorações, quer homenagear Spínola(!) que foi o chefe do MDLP bombista que destruiu património e também matou, além do democrata Padre Max e sua aluna, também quis matar o 25 de Abril!
O que resta de Abril? Quase nada num sistema securitário. Onde páram as pessoas comuns que há 48 anos descobriram já não haver motivos para ter medo das forças armadas e dos patrões e se reuniam em assembleias para discutir e resolver as questões da sua vida colectiva? Foram expulsas sem deixar rasto, porque era essa a essência da democracia de Abril. Essa novidade electrizante, que alguns chamaram com condescendência utopia, foi a descoberta de que a democracia pode ser mais do que o espectáculo das instituições, pode e deve ser a via para questionar uma ordem social e abordar a grande questão que lateja sob a normalidade do dia a dia. É admissível a propriedade de meia dúzia de famílias contra o interesse de milhões de pobres? A democracia de Abril só por isso foi estrangulada!
Sejam sérios, festejem os 49 anos do 25 de Novembro(!). Isto sim é que faz sentido...
Vítor Colaço Santos
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