sexta-feira, 29 de abril de 2022

Ética, pragmatismo e realpolitik


Sem recuarmos muitos séculos na História, até Sun Tzu ou mesmo Maquiavel, testemunhámos, há poucas décadas, os “ensinamentos” de Henry Kissinger ou Zbigniew Brzezinski, sublinhando a premência de, nas relações internacionais, se dar primazia ao pragmatismo, ao utilitarismo das medidas implementadas. O cinismo deste tipo de pensamento torna-se fundamental para adaptar a actividade humana à objectividade de que é feita a vida, que nunca é como deveria ser, mas como existe na realidade. 

Putin manipula como ninguém estes conceitos, bastando-lhe a capacidade inesgotável de cinismo e a total falta de escrúpulos de que dá mostras. Chega a  requintar-se com “pormenores” como aqueles bombardeamentos a Kiev, em plena visita do secretário-geral da ONU. 

A Federação Russa não é uma entidade política “normal”, e já todos percebemos que, ao nível convencional, tem um poderio militar muito mais débil do que aquele que, há pouco tempo, pensávamos indiscutível. O problema estará em que, pela mão de Putin, a Rússia salte para fora desse “convencional”. Aí sim, tudo será de temer, e talvez valha a pena começar-se já a pensar e agir em termos pragmáticos. Por muito que custe a tantos ofendidos e a longínquos “heróis” irresponsáveis.


Expresso - 06.05.2022

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