Do «Livro Branco – Maio 1982 Porto», transcreve-se relatos de jornalistas nos seus respectivos órgãos de informação:
«Já na Avenida dos Aliados identifiquei-me como jornalista. Um dos graduados olhou-me com desdém: «Vamos limpar esta porcaria e esse cartão não lhe serve de nada. Depois, quando tiver a cabeça partida, não me diga que não o avisei. Os jornalistas comem como os outros». (Carlos Magno, RDP/Porto)
«”Desaparece”» - berrou-me o polícia, quando eu, colado à parede do Café Imperial tinha acabado de lhe exibir a carteira profissional que o deveria obrigar, por lei, a respeitar a minha missão de jornalista. «Temos ordem para varrer a Praça», atalhou. E varreram. Segundos depois, foi o início do verdadeiro pesadelo: os primeiros tiros foram disparados à saída da Praça da Liberdade e só terminariam na subida para a Sé, centenas de metros para além do perímetro de eventuais confrontos, com muito sangue derramado na Praça Almeida Garrett». (Afonso Camões – O Primeiro de Janeiro).
«Aqui são todos iguais e os jornalistas ou se retiram ou comem como os ostros. Temos ordem para limpar a Praça e é isso que vamos fazer». A seu lado, um outro elemento da Polícia de Intervenção lisboeta, aparentemente um subordinado, acrescentou: «não olhamos a cartões e ou a Praça fica limpa ou ainda esta noite há mortos…» (José Alberto Magalhães, jornalista da ANOP)
«Aquilo a que assisti, nessa madrugada de 30 para 1 de Maio, ano de 1982, foi uma vasta exibição de violência repressiva e gratuita, em que os muitos actos de pura selvajaria contra gente indefesa e inadvertida marcaram o tom geral de uma operação policial realizada em condições tais de desprezo pelo direito de cada um à integridade física e à vida que ficaram a classificar um conceito – absurdo – de polícia». (José Queirós, Jornalista do Expresso)
«Em vez de um lápis dou-te mas é com o cassetete pelas costas abaixo, para então teres muito que escrever», disse-me ele, o polícia, ou pelo menos fardado e armado como tal , ao fim da noite do dia 30, quando em plena Praça da Liberdade recolhia o depoimento de um homem que chorava, por, também ele, ter sido agredido, barbaramente, quando vindo do trabalho se dirigia à paragem do autocarro». (Alfredo Mourão, jornalista de A Capital)
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