sábado, 5 de novembro de 2016

A pardela-de-bico-amarelo





A pardela-de-bico-amarelo



*Cristiane Lisita

foto:internet
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A pardela-de-bico-amarelo é uma ave, cujo nome científico, derivado do grego, denota ‘belo nadador’. Migratória e gregária possui consideráveis dimensões, exibindo albor em suas partes inferiores, com bordas acastanhadas e partes superiores cinéreas.  O seu voejo arqueado é um planar sob as correntes candentes, nas brandas batidas das asas, ora vagando nos céus, ora em rasante, abeirando-se das brumas do mar.

A cagarra, como também é conhecida, busca, junto aos seus grupos, as suas presas: pequenos peixes e cefalópodes, a muitos metros abaixo da espinha das águas. Trata-se de um pássaro monogâmico que se reproduz, geralmente, em falésias, colocando apenas um alvejado ovo, escondido em um toca. Os progenitores alimentam o filhote que abandona o ninho, no outono, e ruma para o azul até o dia em que irá regressar à terra firme para procriar. Pode ser observada no litoral português, embora seja tida, hoje, como uma espécie em situação vulnerável.

Tal qual a pardela-de-bico-amarelo a juventude se esvai. Lança-se o pássaro que habita em nós em direção ao fanal da vida, no insondável infinito. E em uma ‘jangada’ de pássaros esvoaça em inequívoco canto. Das quimeras as asas, das penas o evidente leito armado para os vindouros e encanecidos anos.  Alça em sobressalto o pélago bravio e tempestuoso da mocidade, e quiçá, há de retornar, depois, à sua morada, na encosta íngreme, nos penhascos e nas escarpas do corpo sob a ação erosiva do tempo e do mar. Vai a ave nidificar para outra ave voar.

O poema de Rubem Alves me invade: “Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão”.


*Cristiane Lisita (escritora, jornalista, jurista)



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