A pardela-de-bico-amarelo
*Cristiane Lisita
foto:internet
A
pardela-de-bico-amarelo é uma ave, cujo nome científico, derivado do grego,
denota ‘belo nadador’. Migratória e gregária possui consideráveis dimensões,
exibindo albor em suas partes inferiores, com bordas acastanhadas e partes superiores
cinéreas. O seu voejo arqueado é um
planar sob as correntes candentes, nas brandas batidas das asas, ora vagando nos
céus, ora em rasante, abeirando-se das brumas do mar.
A
cagarra, como também é conhecida, busca, junto aos seus grupos, as suas presas:
pequenos peixes e cefalópodes, a muitos metros abaixo da espinha das águas. Trata-se
de um pássaro monogâmico que se reproduz, geralmente, em falésias, colocando
apenas um alvejado ovo, escondido em um toca. Os progenitores alimentam o filhote
que abandona o ninho, no outono, e ruma para o azul até o dia em que irá regressar
à terra firme para procriar. Pode ser observada no litoral português, embora
seja tida, hoje, como uma espécie em situação vulnerável.
Tal
qual a pardela-de-bico-amarelo a juventude se esvai. Lança-se o pássaro que
habita em nós em direção ao fanal da vida, no insondável infinito. E em uma ‘jangada’
de pássaros esvoaça em inequívoco canto. Das quimeras as asas, das
penas o evidente leito armado para os vindouros e encanecidos anos. Alça em sobressalto o pélago bravio e tempestuoso
da mocidade, e quiçá, há de retornar, depois, à sua morada, na encosta íngreme,
nos penhascos e nas escarpas do corpo sob a ação erosiva do tempo e do mar. Vai
a ave nidificar para outra ave voar.
O
poema de Rubem Alves me invade: “Há um grande vento frio cavalgando as ondas,
mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas
assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão”.
*Cristiane
Lisita (escritora, jornalista, jurista)
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