A
auto-denominada Comunidade Internacional, que é um eufemismo para
designar os capatazes do mundo, o imperialismo norte-americano, seus
aliados e a NATO, diz-se muito preocupada com a Coreia do Norte, com
o seu regime, e com a sorte do seu povo. Aliás, preocupação
idêntica à que têm com Cuba desde que Fidel Castro, Che Guevara,
Camilo Cienfuegos e mais um punhado de revolucionários, derrubaram o
governo do seu homem de mão, Fulgêncio Batista, que lhes assegurava
a belíssima ilha como sua estância balnear privativa e que nunca
se conformaram pelo facto do seu povo, apesar do criminoso embargo e
de tentativas várias para a combater, ter defendido a sua revolução
e assegurado uma vida autónoma e digna. E onde a suas “preocupações”
deixaram de o ser, como no Iraque ou na Líbia, veja-se o estado em
que deixaram esses países.
Mas
voltemos às suas “preocupações” com a Coreia do Norte e com
as tentativas que fazem, como dizem, para bem do seu povo e para
exportarem também para lá, a sua democracia. Então, não lhes
bastava já as sanções, as bases militares e os milhares de homens
que têm estacionados na Coreia do Sul, provocatória e
frequentemente, fazem manobras militares intimidatórias junto das
suas fronteiras e propoem-se construir um escudo anti-missivel que
deixaria aquele país completamente inofensivo e vulnerável. E este,
acossado, e como potência nuclear que é, responde. Portanto, estes
jogos de guerra, que até agora tem sido inofensivos, podem deixar de
o ser, se a escalada continuar com consequências ainda imprevisíveis
mas, de certo, apocalípticas.
Não
estamos aqui a fazer juízos de valor e muito menos a apologia do
regime norte-coreano, porque o que está em causa, é a hipocrisia
do país que se arvora em guardião universal dos direitos humanos e
da democracia, e que submete, ou tenta submeter à força, quem não
alinha pela sua bitola de democracia e não se lhe submete.
As
armas atómicas da Coreia do Norte são um perigo? Claro que são!
Então e as de Israel, da Índia, do Paquistão e de todos os outros
países que as têm? O regime daquele país é uma aberração? Então
e, por exemplo, o da aliada Arábia saudita,sua principal cliente de
armamento que pôs o “pequeno” Iémen a ferro e fogo e apoia
velada ou descaradamente o fanatismo islâmico sunita, e onde a
mulher é tratada como um objeto,onde existe uma justiça medieval e
cruel com amputações e lapidações?
A
Coreia do Norte é um perigo? Quantos países já invadiu ou tentou
submeter? E o seu aliado, Israel, que anexou os Montes Golã da Síria
e que transformou a Palestina na maior prisão a céu aberto do
mundo?
Existem
armas nucleares suficientes para eliminar toda a humanidade. Mais de
metade, pertencem a um único país, os EUA. Também o único que
até hoje já as usou desnecessária e criminosamente.
Porque
é que a principal potência nuclear e convencional mundial, não dá
o exemplo e começa a reduzir os seus arsenais? Porque é que não
aceita o já antigo repto da ONU e incentiva todos os outros países
do clube nuclear, à eliminação total dessas armas? Não
aceita,porque almeja o controlo, a hegemonia mundial.
Recentemente,
a China e a Rússia propuseram negociações políticas com vista a
desanuviar o tenso e perigoso ambiente. A Alemanha afirmou apoiá-las,
os EUA rejeitaram-nas liminarmente. Aliás, a Alemanha e a própria
União Europeia, registe-se, discordaram publicamente das mais
recentes medidas económicas dos EUA contra a Rússia.
Estejamos
atentos, porque efetivamente o Apocalipse pode acontecer. Apontemos
o dedo a todos os potenciais culpados, a começar pelos mais
hipócritas e falsos moralistas.
Francisco
Ramalho
Corroios,
1 de Setembro de 2017
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