segunda-feira, 4 de setembro de 2017

HIPOCRISIA E GRANDES PERIGOS



A auto-denominada Comunidade Internacional, que é um eufemismo para designar os capatazes do mundo, o imperialismo norte-americano, seus aliados e a NATO, diz-se muito preocupada com a Coreia do Norte, com o seu regime, e com a sorte do seu povo. Aliás, preocupação idêntica à que têm com Cuba desde que Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e mais um punhado de revolucionários, derrubaram o governo do seu homem de mão, Fulgêncio Batista, que lhes assegurava a belíssima ilha como sua estância balnear privativa e que nunca se conformaram pelo facto do seu povo, apesar do criminoso embargo e de tentativas várias para a combater, ter defendido a sua revolução e assegurado uma vida autónoma e digna. E onde a suas “preocupações” deixaram de o ser, como no Iraque ou na Líbia, veja-se o estado em que deixaram esses países.
Mas voltemos às suas “preocupações” com a Coreia do Norte e com as tentativas que fazem, como dizem, para bem do seu povo e para exportarem também para lá, a sua democracia. Então, não lhes bastava já as sanções, as bases militares e os milhares de homens que têm estacionados na Coreia do Sul, provocatória e frequentemente, fazem manobras militares intimidatórias junto das suas fronteiras e propoem-se construir um escudo anti-missivel que deixaria aquele país completamente inofensivo e vulnerável. E este, acossado, e como potência nuclear que é, responde. Portanto, estes jogos de guerra, que até agora tem sido inofensivos, podem deixar de o ser, se a escalada continuar com consequências ainda imprevisíveis mas, de certo, apocalípticas.
Não estamos aqui a fazer juízos de valor e muito menos a apologia do regime norte-coreano, porque o que está em causa, é a hipocrisia do país que se arvora em guardião universal dos direitos humanos e da democracia, e que submete, ou tenta submeter à força, quem não alinha pela sua bitola de democracia e não se lhe submete.
As armas atómicas da Coreia do Norte são um perigo? Claro que são! Então e as de Israel, da Índia, do Paquistão e de todos os outros países que as têm? O regime daquele país é uma aberração? Então e, por exemplo, o da aliada Arábia saudita,sua principal cliente de armamento que pôs o “pequeno” Iémen a ferro e fogo e apoia velada ou descaradamente o fanatismo islâmico sunita, e onde a mulher é tratada como um objeto,onde existe uma justiça medieval e cruel com amputações e lapidações?
A Coreia do Norte é um perigo? Quantos países já invadiu ou tentou submeter? E o seu aliado, Israel, que anexou os Montes Golã da Síria e que transformou a Palestina na maior prisão a céu aberto do mundo?
Existem armas nucleares suficientes para eliminar toda a humanidade. Mais de metade, pertencem a um único país, os EUA. Também o único que até hoje já as usou desnecessária e criminosamente.

Porque é que a principal potência nuclear e convencional mundial, não dá o exemplo e começa a reduzir os seus arsenais? Porque é que não aceita o já antigo repto da ONU e incentiva todos os outros países do clube nuclear, à eliminação total dessas armas? Não aceita,porque almeja o controlo, a hegemonia mundial.
Recentemente, a China e a Rússia propuseram negociações políticas com vista a desanuviar o tenso e perigoso ambiente. A Alemanha afirmou apoiá-las, os EUA rejeitaram-nas liminarmente. Aliás, a Alemanha e a própria União Europeia, registe-se, discordaram publicamente das mais recentes medidas económicas dos EUA contra a Rússia.
Estejamos atentos, porque efetivamente o Apocalipse pode acontecer. Apontemos o dedo a todos os potenciais culpados, a começar pelos mais hipócritas e falsos moralistas.
Francisco Ramalho
Corroios, 1 de Setembro de 2017



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