#Polícias do fisco
Com este título escreve hoje Pedro Ivo de Carvalho,
jornalista do JN: “Não cessa de me espantar a eficácia germânica do fisco
português. Uma máquina tão, mas tão bem oleada que conseguiu a admirável
façanha de nos transformar em exército esquizofrénico de fiscalizados e fiscalizadores.
Fazemos o trabalho sujo e ainda pagamos.
A fuga às obrigações continua em níveis da América do Sul,
mas a ideia que projectamos é de que, em matéria fiscal, metemos os suecos num bolso. E isso nota-se
nos mais comezinhos rituais de consumo. Vamos
ao pronto-a-vestir e ouvimos: “Quer com número de contribuinte?”Vamos ao café e
ouvimos: “Quer com número de contribuinte?” Vamos ao hipermercado e o número de
contribuinte já está associado ao cartão de descontos; mesmo assim, o simpático
funcionário da caixa indaga se queremos com número de contribuinte.
Assimilamos esta cultura não como um dever cívico, mas como
uma vírgula no meio de uma frase. Enquanto andarmos entretidos a fazer de polícias
uns dos outros, os saqueadores continuarão a olhar-nos, soridentes e em silêncio,
sentados nas núvens apaziguadoras dos paraísos fiscais.
Trancrito por Amândio G. Martins
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