Diálogo em Julho
Dois amigos, políticos
encartados, conversam numa tertúlia onde normalmente se encontram.
Diz o primeiro:
- Calha bem encontrar-te porque
tenho uma coisa para te dizer, sobre um nosso colaborador. Encontrei há pouco o
Alfredo, com um ar muito pesaroso, pois acaba de ser despedido do lugar que lhe
tínhamos arranjado. Nosso fiel companheiro, e não prestando para nada, como
sabes, não pode ficar por aí ao Deus dará. Tens de lhe arranjar alguma coisa,
que se veja, na esfera pública, com a urgência que o caso requer, pois o nosso
poder, em alguns sectores, está em vias de entrar em ruptura e é preciso
aproveitar os últimos cartuchos, pois os amigos são para as ocasiões.
O outro, sempre atencioso, medita
um pouco e responde.
- Ora nós sabemos que o Alfredo,
não sabe fazer nada, mas é a simpatia em pessoa e está talhado para relações
públicas, que me parece é a sua formação académica ou talvez Relações Internacionais.
Arranjamos um lugar à sua e à nossa medida. Vou telefonar para a nossa gente
dos institutos, câmaras, ministérios ou empresas públicas e irá ter um lugar
junto da administração, talvez assessor ou consultor contratado. O despacho irá
sair no Diário da República, com a chancela de “por conveniência de serviço”.
Dorme descansado e o rapaz que faça as malas.
Isto não se passou, tal qual
assim, mas podia ter-se passado.
Contudo esta não é a única
maneira de colocar os amigos à mesa do erário público, pois existem outras
formas, mais sofisticadas, de atingir os mesmos objectivos.
Fazem-se parcerias para
determinados projectos, porque qualquer pequeno passo tem de estar alicerçado
em minuciosos projectos, na maioria das vezes com muita parra e pouca uva, porque
o fim principal é impressionar os otários que sustentam todas estas estruturas.
Assim, os beneficiários
contratados fazem uma firma, com toda a urgência, através dessa descoberta que
foi a “empresa na hora”, e a instituição contratante, sustentada directa ou
indirectamente pelos nossos impostos, fica com um encargo de, durante um certo
período, às vezes alguns anos, pagar uma avença mensal ou anual, que muitas
vezes não é mais que o salário de um assessor, que acaba de ser contratado de
forma indirecta. O que isto tem ainda mais de anormal é que muita gente, que
está metida na política e que tem altos cargos de decisão, acha tudo isto
ético, porque é legal, e serve-se do estratagema a benefício dos seus
correligionários e amigos. Isto desenvolveu-se como epidemia e é difícil, ou
quase impossível, dar-lhe a volta.
22.07.2013
Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo
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