O presente de Zé Pedro e Belmiro
Com o título acima, o publicitário Hugo Veiga escreveu no JN
de sábado – caderno “Dinheiro Vivo”- o texto que segue abaixo quase inteiro:
“Zé Pedro e Belmiro Azevedo morreram.Nunca conheci nem
estive na presença de ambos. Não sei como eles tratavam amigos, família ou
funcionários e, daí, não ter propriedade para falar da personalidade de cada
um. Mas a sua morte no espaço de dias deixou evidente como a percepção
colectiva pode ser muitas vezes cruel.
A morte, só a sente
quem cá fica. E muitos foram os que ficaram, que cá falaram sobre os dois. No
entanto, na “timeline” dessa “second life” chamada Facebook, jorraram-se emojis
de lágrimas apenas por Zé Pedro. Já por Belmiro, silêncio.
Porque chorou a minha
“timeline”portuguesa Zé Pedro e não Belmiro? É óbvio que não tem como comparar
um músico com um empresário. Rostos de rock stars estampam t-shirts e povoam os
quartos dos adolescentes. E este empresário das antigas estava longe de ter uma
imagem “cool” como a de Steve Jobs ou Elon Musk. Belmiro de Azevedo foi um dos
mais proeminentes empresários nacionais. Um homem directo, de frases fortes e
que nunca olhou o cores partidárias nas suas críticas. Criou empregos,
alimentou famílias, elevou a nossa economia e projectou o país lá fora. No
entanto, a sua figura nunca conquistou o coração popular.
Quisesse ou não, ele era um ícone do corporativismo. Um símbolo
do vergar a mola, do das 8am às 5pm. Zé Pedro, cooperativista, representava bem
o das 8pm às 5am, as noites no Bairro Alto.
Percepção é realidade criada. E mesmo tendo liderado
iniciativas inovadoras na área da educação e investido muito na cultura(foi um
dos maiores mecenas da Casa da Música do Porto), Belmiro não conseguiu uma
redenção popular como Bill Gates ou Zuckerberg com as suas iniciativas sociais.
A dívida de Belmiro com os portugueses foi, talvez, o facto
de nos ter privado de si. De não ter partilhado mais do seu lado humano. Que
deveria ser muito rico e, com certeza, mais próximo de nós. Gente como a gente.
já a maior riqueza de Zé Pedro, seu dom musical, foi
partilhada com todos. Ele era um livro aberto. Escancarou as suas fragilidades
humanas, seus erros e o acolhemos em nossos braços por isso. Belmiro foi
instituição. Zé Pedro, um irmão. Os dois se foram e Portugal ficou mais pobre
por isso. E por se irem na mesma semana deixaram-nos uma lição preciosa: a
riqueza deixada é a humanidade doada”.
E eu acrescentaria: um “deu” de comer a muita gente; o outro
“deu” música. Mas cada um, no seu campo de acção, foram igualmente importantes...
Amândio G. Martins
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