segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O presente de Zé Pedro e Belmiro

Com o título acima, o publicitário Hugo Veiga escreveu no JN de sábado – caderno “Dinheiro Vivo”- o texto que segue abaixo quase inteiro:

“Zé Pedro e Belmiro Azevedo morreram.Nunca conheci nem estive na presença de ambos. Não sei como eles tratavam amigos, família ou funcionários e, daí, não ter propriedade para falar da personalidade de cada um. Mas a sua morte no espaço de dias deixou evidente como a percepção colectiva pode ser muitas vezes cruel.

A  morte, só a sente quem cá fica. E muitos foram os que ficaram, que cá falaram sobre os dois. No entanto, na “timeline” dessa “second life” chamada Facebook, jorraram-se emojis de lágrimas apenas por Zé Pedro. Já por Belmiro, silêncio.

 Porque chorou a minha “timeline”portuguesa Zé Pedro e não Belmiro? É óbvio que não tem como comparar um músico com um empresário. Rostos de rock stars estampam t-shirts e povoam os quartos dos adolescentes. E este empresário das antigas estava longe de ter uma imagem “cool” como a de Steve Jobs ou Elon Musk. Belmiro de Azevedo foi um dos mais proeminentes empresários nacionais. Um homem directo, de frases fortes e que nunca olhou o cores partidárias nas suas críticas. Criou empregos, alimentou famílias, elevou a nossa economia e projectou o país lá fora. No entanto, a sua figura nunca conquistou o coração popular.

Quisesse ou não, ele era um ícone do corporativismo. Um símbolo do vergar a mola, do das 8am às 5pm. Zé Pedro, cooperativista, representava bem o das 8pm às 5am, as noites no Bairro Alto.

Percepção é realidade criada. E mesmo tendo liderado iniciativas inovadoras na área da educação e investido muito na cultura(foi um dos maiores mecenas da Casa da Música do Porto), Belmiro não conseguiu uma redenção popular como Bill Gates ou Zuckerberg com as suas iniciativas sociais.

A dívida de Belmiro com os portugueses foi, talvez, o facto de nos ter privado de si. De não ter partilhado mais do seu lado humano. Que deveria ser muito rico e, com certeza, mais próximo de nós. Gente como a gente.

já a maior riqueza de Zé Pedro, seu dom musical, foi partilhada com todos. Ele era um livro aberto. Escancarou as suas fragilidades humanas, seus erros e o acolhemos em nossos braços por isso. Belmiro foi instituição. Zé Pedro, um irmão. Os dois se foram e Portugal ficou mais pobre por isso. E por se irem na mesma semana deixaram-nos uma lição preciosa: a riqueza deixada é a humanidade doada”.

E eu acrescentaria: um “deu” de comer a muita gente; o outro “deu” música. Mas cada um, no seu campo de acção, foram igualmente  importantes...


Amândio G. Martins





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