O novo ano
aproxima-se e, nem que seja por mimetismo com os escribas encartados, não fujo
à tentação de dar uma olhadela ao que agora termina, para fazer o respectivo e
inevitável balanço, embora despretensiosamente incompleto. A minha apreciação é
moldada pelos valores fundamentais que me norteiam: Igualdade, Fraternidade,
Liberdade, por esta ordem, aos quais junto a justiça (sem maiúscula, para não
se confundir com o aparelho judiciário). A Igualdade, naturalmente, entende-se
num contexto de acesso a oportunidades, e estamos muito longe de a conseguir,
se é que alguma vez lá vamos chegar. A Fraternidade também não é coisa que se
encontre ao dobrar da próxima esquina, que o bicho-homem é, de facto, muito
retorcido e permeável a sentimentos primariamente mesquinhos, malévolos e
egoístas. A Liberdade aparece em último lugar porque tem efeitos que não são
iguais em todas as pessoas: se ela for plena, os mais débeis que se acautelem,
facto que aconselha a expropriação de toda a liberdade aos inimigos da
liberdade (Saint-Just), tarefa difícil porque alguém tem de ajuizar, e nunca
saberemos se o estará a fazer com probidade. Quanto à justiça, enfim, é bom
sonhar.
Começando
pelo País, julgo que tivemos um ano mais feliz do que os anteriores, apesar de
agruras provavelmente evitáveis (pelo menos em parte), como os pavorosos
incêndios que dizimaram o interior, bem como algumas derrapagens
governamentais. Vivemos menos crispados e ensimesmados, menos desanimados e
infelizes, menos tristes e bisonhos. Respirou-se mais confiança e esperança,
sentimentos que regressaram com o afastamento de certos dirigentes, macambúzios
por gosto e por suposto dever. É claro que continua a haver gente zangada com a
vida, mas isso será sempre inevitável. Penso que a felicidade é querer-se o que
se tem, não querer-se o que ainda não
se tem (Agustina Bessa-Luís?) e muitos não o compreendem/sentem.
O Mundo não
esteve muito bem, com a entrada de rompante, durante o ano, do pato americano
que é pena não se ter mantido na Disney, de onde nunca devia ter saído. O
Donald, mais rico do que o Patinhas, ainda quer acumular mais moedinhas, sempre
à custa dos papalvos que, desiludidos (e com razão), pensam que a prosperidade
vem por essa via, apesar de, sem papas na língua, o biltre lhes anunciar com
desfaçatez que lhes retira segurança social, protecção na doença e lhes aumenta
os impostos, naturalmente para poder aliviar os que impendem sobre si e a sua
própria classe. Ainda não é a luta de classes porque ele consegue enganá-los
com maestria e, como rebuçado, dá-lhes a facilidade de usar e abusar de armas “legais”,
para protegerem as suas “liberdades”. E até lhes mostra “como é”, envolvendo-se
num jogo de tabuleiro, chamado de guerra, com um atrasado mental do seu
calibre, que se chama Kim Jong-un. Esperemos todos que, antes de se pegarem à
“chapada”, lhes tirem o tabuleiro, a um e a outro, e os ponham no canto da sala
com orelhas de burro. Apelemos a Santo Guterres.
E a Voz da
Girafa? Já teve melhores dias. Nem sempre cumpre os objectivos que se presume
terem levado os fundadores a criá-la. Ninguém o poderá tornar melhor, a não ser
nós mesmos, os autores (QUE É FEITO DAS AUTORAS?). Oxalá contribua para o
debate de ideias, com respeito e tolerância, na defesa dos valores que referi
acima, bem como de outros igualmente louváveis. Se todos escreverem posts e comentários que, em
consciência, julgam publicáveis em qualquer jornal, estou certo de que não
haverá problemas de maior. Afinal, a Girafa não é um blogue de
leitores-escritores de cartas para jornais? Por fim, pena que alguns nos tenham abandonado.
Pode ser que regressem em 2018, e aqui fica o respectivo apelo.
Isto é o que
importa, o resto não passa de espuma, mais limpa ou mais suja.
Peço licença para fazer minhas as suas palavras...
ResponderEliminarBem podemos esperar sentados quanto ao apelo a Santo Guterres...
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