sábado, 2 de dezembro de 2017

OS MORTOS PRIVILEGIADOS E OS INCÓGNITOS



No mesmo dia, ou 1 ou dois dias antes ou depois, não interessa, da morte de Belmiro e Zé Pedro, morreram também 4 honrados e dignos pescadores ao largo da Figueira da Foz. Sabiam? Ou, pelo menos, o nome deles, souberam? Evidentemente que não!As honras, a informação até há exaustão, foram para o empresário e para o musico. Para os media do sistema, que é que interessa 4 simples pescadores? E depois, isso é notícia? Vende?
Ninguém põe em duvida a inteligência e a argucia de Belmiro de Azevedo que soube tirar o máximo proveito do sistema. O sistema (capitalista) sobre o qual já Almeida Garrett dizia; “ E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?” É verdade que as condições dos milhares, dos milhões, que são necessários para produzir ricos, melhoraram depois do grande e humanista escritor, mas, graças à sua luta! No entanto, para os media do sistema, como se constata, continuam a não passar de meros números.
Em relação ao popular músico, não foi dado praticamente qualquer destaque às causas da sua morte. Porquê? Ele próprio, como pessoa generosa que era, deu-a .Numa das muitas entrevistas que fazia questão de o dizer, até como medida preventiva para outros ,nomeadamente para os jovens, disse: “estar na moda não é experimentar tudo, há que saber dizer ,Não!”. E o Zé Pedro disse, não! Mas, como experimentou e abusou de tudo (também o disse nessa entrevista ao Blitz e noutras) álcool, anfetaminas, cocaína, heroína, já foi tarde. O seu fígado não aguentou e o transplantado também teve duração limitada e o nosso amigo Zé Pedro, pagou o preço mais alto. A vida apenas com 61 anos. Volto a perguntar, como era sua vontade por solidariedade com os jovens, porque omitiram os media para os quais os pescadores, os mineiros, os carpinteiros, os trabalhadores, são apenas números? Quem ficaria a perder eram apenas os imorais que se enchem à conta de tantas vidas, como a do malogrado Zé Pedro.
Francisco Ramalho

Corroios, 2 de Dezembro de 2017

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