À tia que faleceu e que temos de esvaziar. Hoje já há quem
receba roupas e lá vamos entregar vestidos e casacos e até roupa de casa.
Depois são as loiças que conseguimos distribuir pelos familiares e amigos e até
pelas primas que estão a rechear a casa que acabaram de comprar ou que gostam
de fazer algum negócio e levar jarras e caixinhas às feiras de velharias. E
temos os móveis que sobram depois de bem escolhidos. Para este sector também há
umas empresas que os levam rapidamente.
Mas há um aspecto que muitas vezes nos agride junto aos
caixotes do lixo. Digo “agride” porque muitos de nós ainda somos muito
sensíveis a deitar fora livros. E junto de caixotes de lixo vemos muitas vezes
grandes quantidades de livros em bom estado ali abandonados. As pessoas vão
passando e remexem e até por vezes levam um ou dois mas a grande maioria ali
fica até a camioneta do lixo os levar.
Então onde se pode entregar livros? Segundo informações que
se vão recolhendo as bibliotecas locais, de uma maneira geral, estão cheias e
recusam aceitar estas “doações”. Há quem tente enviar para a Província e faça
alguns contactos mas com muito pouco êxito pois o nosso interior está desértico
e as vilas e cidades têm já as suas bibliotecas a funcionar e o envio também
quando ocorre é bastante caro.
Há anos fui confrontada com um pedido para encontrar quem
recebesse livros técnicos de Economia em inglês e Alemão que faziam parte da
“Biblioteca” de um economista falecido e ninguém da família tinha interesse
neste género de livros. Não tive qualquer êxito e, se calhar, os livros
continuam nas prateleiras. Hoje com a redução de tudo a um computador portátil
ou a uma “tablet” muito poucas pessoas preenchem as suas horas de lazer a ler
um livro em papel. Até as crianças desde tenra idade já sabem ver desenhos
animados nas novas tecnologias.
Há quem tenha tentado enviar para os Países de expressão
portuguesa. Porém esta alternativa esbarra com dificuldades em contactos com as
entidades locais e quando se consegue deparamo-nos com os preços exorbitantes
do seu envio.
Que fazer? Não seria possível aqui no nosso Município de
Oeiras que continua a ser chamado por muitos de Município Modelo e que até tem
ligações com países de língua oficial portuguesa encontrar um caminho para
periodicamente recolher livros e depois fazer chegar a quem gostaria de dispor
de um livro em papel? Fica o desafio.
Maria Clotilde Moreira
Jornal Costa do Sol – 16.01.2019
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