sábado, 26 de janeiro de 2019

OS MENINOS E MENINAS SEM NOME




A Espanha seguiu emocionada a demorada e complexa tentativa de salvar o menino que caiu no furo de prospeção e ficou consternada com o triste desfecho. A Espanha, até Portugal e com certeza, grande parte da Europa. O caso do menino sírio que foi encontrado morto numa praia da Turquia, ainda teve maior repercussão, porque vale mesmo mais uma imagem que mil palavras. A foto do seu corpinho inanimado foi projetada globalmente e a consternação foi universal.
O primeiro caso, deveu-se a lamentáveis descuidos. O facto do furo estar destapado e a negligência de quem cuidava da criança. A segunda tragédia, como se sabe, teve origem bem diferente. O infeliz Alan, fugia com a família dos horrores da guerra.
Só durante o espaço temporário entre a morte dos dois, quantos meninos e meninas não morreram devido ao efeito direto ou indireto da guerra, da subnutrição, de doenças até curáveis e de outras brutalidades? Milhares!
Na tentativa para se salvar o pequenino Julen, não se olhou a meios. E ainda bem! E para evitar a morte de Alan, dos outros milhares de meninos e meninas e adultos vítimas da barbárie, o que é que se fez? Zero! Esses, nem sequer sabemos o nome de um único. Esses,não passam de números. De estatísticas.
A credível organização OXFAM, divulgou recentemente o seu relatório anual. E que diz esse relatório? Diz que o capitalismo está cada vez mais predador; os ricos estão cada vez mais ricos (tiveram um aumento de 13% e o seu número também aumentou) e os pobres cada vez mais pobres.
Números impressionantes! Apenas um exemplo: 1% da população é detentora de 80% da riqueza mundial.
Já o nosso grande Almeida Garrett dizia: “ E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?”
Portanto, o grande humanista, volta a estar cada vez mais atual. Acrescentaremos apenas que o capitalismo, para além de todas essas ignomínias, é o principal fautor da guerra. De meninos e meninas e adultos mortos sem nome.
Francisco Ramalho
Corroios, 26 de Janeiro de 2019


1 comentário:

  1. Subscrevo. Na íntegra. Os bur(r)ocratas da UE serão cangalheiros? Serão cegos? Serão surdos? Serão sobretudo nada, do que tudo... Ah!, os números sempre à frente das pessoas, mas... 'A ira dos mansos é terrível!', Miguel de Unamuno. O enorme escritor, José Rodrigues Miguéis, dizia 'Para haver um rico é preciso 100 pobres!'. Isto há algumas décadas. Agora, constata-se que a desproporção é maior, muito maior, a favorecer quem se apropria das mais-valias da força de trabalho, fazendo uma iníqua distribuição da riqueza... Não haverá de ser sempre assim!...

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