Mesmo que sejamos simpáticos, amáveis, educados, há algo que nos aprisiona, algo que só alguns de nós ultrapassamos e nem sempre. É a máquina trituradora que nos controla, que diminui a vida. Maldita ganância, maldita conquista que vem dos séculos e que o capitalismo amplifica. Maldita máquina que nos impede de sermos nós mesmos. Sim, nós tínhamos sonhos, desejos. Nós conversávamos sobre o homem novo, sobre a vida nova. Agora eles querem separar-nos, isolar-nos, converter-nos à imbecilidade. Atiram-nos imagens e mais imagens e nós já não vivemos, as imagens vivem por nós, é a felicidade fabricada. Merda! No deserto do café eu revolto-me. No deserto do café eu sou soberano. Mas eles continuam a atirar-me imagens. Mãe, eles querem-me doente, passivo. Mãe, eles querem que eu os siga. Lixam-me a cabeça com mensagens esquizofrénicas. Mãe, eu não estou louco. Mãe, eu li os mestres. Eles querem mesmo drogar-nos, intoxicar-nos. Alguns de nós conseguem manter-se conscientes mas somos poucos, os outros são completamente levados, mesmo que se julguem felizes. Mãe, isto parece uma coisa inofensiva mas é um inferno. Poderia ser o Céu na Terra de Rimbaud, de Henry Miller. Mas somos obrigados a drogar-nos e a sacrificar-nos. Quase perdemos a vontade. Só a espaços somos irmãos. Só a espaços fazemos a festa. Tudo o mais é forçado e burguês e exige (muito) dinheiro. Não há banquete gratuito, não há o feriado permanente de Nietzsche e Dionisos. O que estamos a fazer aqui, porra? A sofrer? Para quê então estar aqui? Em que é que esses bandidos são melhores do que nós? Porque é que esses bandidos hão-de mandar em nós e controlar-nos? Expliquem-me! Somos inteligentes, somos cultos, criamos, produzimos. Não temos que nos submeter a nenhuma máquina. Destruamos a máquina! Somos homens e mulheres livres, enviados dos céus, nada devemos a ninguém. Dêmos cabo destes merdas que destroem as nossas vidas. No fundo, não passam de uns merdas. Dêmos cabo deles. Eles estão na TV todos os dias. Eles estão na bolsa todos os dias. Eles estão nos mercados todos os dias. Eles perseguem-nos todos os dias. Eles querem enlouquecer-nos. Eles aparecem sorridentes. Eles parecem simpáticos. Eles querem-nos mansos. Não os suporto. Não os quero ver mais.
O senhor que, obviamente, tem pensamento filosófico acredita que.... "somos enviados dos céus"? Eu não. E daí, o meu "aviso" é: será que, imensa vezes e inelutavelmente, "eles"... náo somos "nós"?...
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