terça-feira, 5 de março de 2019

FALEMOS DO TEMPO




Já lá vai o tempo em que falar-se do tempo era sinal de que não se tinha mais nada para falar, ou motivo para não se ficar calado. Agora não! Agora, como o tempo mudou, até convém que dele se fale para que tantos “distraídos” se apercebam como está mesmo mudado, porque motivos, quais as consequências que daí advêm, e o que é que se pode e deve fazer para as minorar e para que ele não mude ainda mais. Para pior...
Evidentemente que falamos das alterações climáticas e das suas ainda não totalmente conhecidas consequências. As que já se conhecem, deveriam pôr os cabelos em pé a todos ( mas não. Como adiante veremos). Por exemplo, a subida do nível dos mares, a expansão dos desertos, a escassez de água doce, ou ainda, fenómenos atmosféricos extremos cada vez mais frequentes, como ciclones, chuvas torrenciais, secas.
Quanto aos motivos, segundos os entendidos, o principal, é a emissão de gases com efeito de estufa que provoca o aquecimento global da atmosfera, a destruição de florestas (fundamentais para através da fotossíntese fixarem o carbono do dióxido de carbono e libertam oxigénio), a poluição da terra rios e mares. Portanto, tudo motivos originados pela actividade humana.
Mas reportemo-nos aqui ao nosso cantinho onde as estações do ano já não são demarcadas como eram, onde chove ou faz calor quando calha como este ano em pleno Fevereiro e com tão pouca chuva.
Segundo o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) em fins de Janeiro do presente ano, por exemplo na região do vale do Sado, a situação do nível da água nas albufeiras era a seguinte: barragem de Campilhas; 10,9%, Monte da Rocha; 11,2%,Monte Serne; 33,4%, Odivelas; 45,6%, Roxo; 37,9% e Vale do Gaio; 49,2.
portanto, a manter-se o tempo assim, imagine-se a desgraça que não será para as culturas de sequeiro, também para as de regadio, e para outros fins! Mesmo a nível nacional, a situação está longe de ser satisfatória. No entanto, salvo erro, fez sábado 15 dias, uma das televisões da nossa praça, fez uma reportagem numa das praias da linha em que os/as banhistas se mostravam felicíssimos e a repórter sai-se com este mimo para uma delas: “aproveite, porque para terça-feira prevê-se já uns aguaceiros. Mas serão fracos. E depois para quinta, regressa o bom tempo”. O bom tempo, seria quase 30 graus em Fevereiro. E este, é apenas um exemplo da consciência, da sensibilidade, da responsabilidade, de tanta gente. Para além de outras barbaridades, como conspurcar-se as praias com milhões de beatas, não se separar o lixo e atirá-lo para onde calha.
E eis que, felizmente, ao acabarmos o texto, soubemos que se prevê chuva para o Carnaval. Portanto, é uma boa partida, mas achamos que não se justifica mudarmos de tema. Esperemos que quem nos lê, também não.
Francisco Ramalho

Publicado ontem no jornal "O Setubalense"

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