Parte da minha
vizinhança do mundo rural tem uma maneira muito peculiar de encarar
as coisas, em particular as relacionadas com a saúde.
Quando estão
doentes, começam por recorrer a alguém (curioso ou curiosa) que lhe
faz umas coisas sem nome, regra geral sem lhes cobrar honorários, cada qual dá
o que puder.
Como este meio acaba
por nunca funcionar, e estou convencido de que (se a situação for
ultrapassada), não há relação directa e objectiva com esta
intervenção destes/destas curandeiros/as.
A fase seguinte, e
como a primeira tentativa não funcionou, é uma ida a Fátima ou
qualquer outra entidade semelhante, crentes de que aí encontrarão o
remédio para as suas maleitas.
Dizem sempre que ‘é
a fé que nos salva’, e não saem deste registo.
Vou contar um caso
recente: um vizinha andava com queixas de perda de visão, com
agravamento progressivo – o tempo ia passando e o seu estado de saúde piorava, não obstante o pedido de intervenção das entidades acima
referidas.
Ao conversar com a pessoa em causa,
apercebi-me de que em princípio a senhora tinha problemas de cataratas,
aconselhando-a a ir a consulta da especialidade.
Embora pouco ou nada
convencida da minha versão, lá foi a uma consulta, e em cerca de
dois anos foi operada às cataratas, uma vista de cada vez, tendo a
última intervenção ocorrido há menos de 1 mês.
No último fim de
semana, voltámos a conversar mais uma vez e disse-me que agora já via bem (já me via), e
que valeu mesmo a pena a operação.
E concluiu,
agradecendo a todos os seus devotos santinhos o facto de ter recuperado a sua
visão, que tanta falta lhe fazia.
Quando lhe disse que
seria bom também não esquecer os médicos que a operaram, tendo respondido não
descurar o papel desempenhado pelos médicos, mas que sem a
intervenção divina as coisas não tinham corrido bem como correram.
A conversa terminou
ali, e deu apenas para me lembrar de uma gravação que há cerca de
3 anos passava muitas vezes na TSF, que dizia “como as coisas
correram bem, deu graças a Deus, mas se tivessem corrido mal, a
culpa era do médico”.
Esse circuito é uma triste imagem de boa parte do povo português.
ResponderEliminarPior que isso- não é só no “mundo rural” mas em plena urbe - até nas capitais! Pululam teorias “ new age” em relação ao hábitos alimentares e aos tratamentos das doenças sem o mínimo substrato científico; abraçadas como “ religiões “ por pessoas que - em teoria-deveriam ter , pelo menos, um mínimo de espírito crítico, dado terem licenciaturas e mestrados !
ResponderEliminarOlá, Lúcia Gomes
EliminarNão poderia estar mais de acordo com as suas palavras. Infelizmente, estamos ainda muito perto do atraso que nos caracteriza: Considero muito actual o texto de Guerra Junqueiro, no seu livro "Pátria": "povo macambúzio, besta de carga, etc, ...".
Boa noite, Dinis Evangelista,
EliminarNão conheço o texto, mas vou procurar!