Mulher...
“Para Sabina, o facto de ser mulher é uma condição que não
escolheu. O que não é feito de uma escolha não pode ser considerado como mérito
ou como fracasso. Sabina pensa que, face a um estado que nos é imposto, temos
de saber adoptar a melhor atitude possível. Parece-lhe tão absurdo insurgir-se
contra o facto de ter nascido mulher como glorificar-se com ele.
Numa das primeiras vezes em que estiveram juntos, Franz
disse-lhe, com uma estranha entoação: “Sabina, você é uma mulher”. Não percebeu
porque é que ele lhe estava a dar essa notícia com tanta solenidade como um
Cristóvão Colombo que acabasse de divisar a costa da América. Só mais tarde
veio a compreender que a palavra mulher, que Franz pronunciava com um ênfase
especial, não era para ele a designação de um dos dois sexos da espécie humana,
mas um valor. Nem todas as mulheres mereciam ser chamadas mulheres.
Mas se, para Franz, Sabina é a mulher, o que será então
Marie-Claude, a sua esposa legítima? Uns vinte anos antes – conheciam-se na
altura há alguns meses – esta ameaçara suicidar-se se ele a deixasse. Franz
ficara maravilhado com a ameaça. Não gostava por aí além de Marie-Claude, mas o
amor dela pareceu-lhe sublime. Achava-se indigno de um tão grande amor e sentiu
que devia curvar-se humildemente perante ele.
Curvara-se, portanto, até ao chão, e casara-se com ela. E
embora Marie-Claude nunca mais lhe tivesse manifestado a mesma intensidade de
sentimentos que mostrara quando ameaçara suicidar-se, continua a sentir, bem lá
no fundo, o imperativo de nunca fazer mal a Marie-Claude e respeitar sempre a
mulher que havia nela.
Esta frase é curiosa.Não pensava respeitar Marie-Claude, mas
respeitar a mulher que havia em Marie-Claude. Só que, sendo Marie-Claude uma
mulher, quem será essa outra mulher que se oculta dentro dela e que ele tem de
respeitar? Não será a ideia platónica de
mulher? Não. Essa mulher é a sua mãe. Nunca lhe passaria pela cabeça dizer que
o que respeitava na mãe era a mulher. Adorava a mãe, não uma mulher qualquer
que se ocultasse dentro dela. A ideia platónica de mulher e a sua mãe são uma e
a mesma coisa”.
Nota – Transcrito do livro anexo por Amândio G. Martins
Bom dia!
ResponderEliminarObrigada por me recordar um livro que me marcou a tantos níveis!
Recordava-me do contexto geral ( já li há alguns anos) mas não de situações específicas. E já na altura este trecho me fez pensar que, muitas vezes as relações entre homens e mulheres não correm como se desejaria , precisamente por este ponto:
Muitos homens procuram nas mulheres o que não encontraram nas mães, ou , pelo contrário, esquecem-se que uma companheira NAO É uma continuação da mãezinha... 🤔🤔
Continuação de boas leituras !
Acho que esse livro foi o encanto de muita gente..."moi même"!E a Sabina ( Lena Ollin, no filme) foi mesmo a minha personagem preferida. A essa MULHER do "chapéu de coco" não a queria como se fosse a minha Mãe, ai isso não!...
ResponderEliminarTenho por hábito antigo rubricar e datar cada livro no final da leitura; e 10.01.89 é a data que ficou neste, significando que já lá vão trinta anos e parece que foi há dias; como o tempo voa!...
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