terça-feira, 7 de março de 2023

 TEMPOS DIFÍCEIS E DE GRANDE APREENSÃO


Enquanto os grupos económicos aumentam exponencialmente os lucros, o nível de vida da esmagadora maioria dos portugueses baixa. O Serviço Nacional de Saúde continua a degradar-se e nos mais variados ramos de atividade; Ensino, Função Pública, transportes, comunicação social, agricultura e tantos outros, os trabalhadores reagem com manifestações e greves e todos sofrem os brutais aumentos de produtos alimentares e outros de primeira necessidade.

Lá fora, para além de catástrofes naturais e de erros humanos como na Grécia, mais um naufrágio no Mediterrâneo a ceifar vidas, incluindo crianças e até um bébé que findaram, com que sofrimento, as suas ainda curtíssimas. Fogem da destruição dos seus países, provocada pelos que no início calaram e sempre apoiaram a guerra na Ucrânia. A desgraça das desgraças. Primeiro, foi a pandemia, agora a guerra. Para Biden, Stoltenberg, Leyen e para o herói deles, Zelensky, só tem uma causa; a invasão da Rússia, e uma solução; a derrota dela.

Mas hoje, para “falar” desta guerra, recorro a um homem de pensamento próprio e reconhecidos méritos, o diretor convidado deste jornal pelo seu 166º aniversário, Viriato Soromenho-Marques, que no seu excelente artigo de opinião “Que Salvação do Povo Seja a Lei Suprema”, DN, 11/2/23, também condena a invasão, mas vai muito para além e antes disso. “Não temos qualquer obrigação militar perante a OTAN, pois o artigo 5º da “defesa mútua” não se aplica ao caso presente da Ucrânia, país que não pertence à organização do Atlântico Norte (…) Qualquer governo europeu, incluindo o português, deveria colocar como prioridade máxima a salvaguarda da sua população contra o risco de o seu território ser um alvo direto ou indireto (através do fallout radioativo resultante de explosões nucleares) (…) Na verdade, será nos limites da razão de Estado das duas potências que contam, os EUA e a Rússia, que será decidido ou o cessar das hostilidades ou a escalada para a autodestruição geral (…)

Esta guerra sem vitória possível e que poderia ter sido evitada diplomaticamente, se os países europeus, que partilham uma vizinhança histórica com a Rússia, tivessem tido maturidade e coragem para contrariar a obstinação dos EUA, nunca abandonada desde a cimeira de Bucareste em 2008, de integrar a Ucrânia na OTAN, apesar das reiteradas reservas e sucessivos alertas russos de que tal constituía uma inaceitável linha vermelha de segurança. Depois de iniciada a guerra, o que seria sensato seria travar diplomaticamente as hostilidades, garantindo o Estado ucraniano, deixando a questão territorial para negociações de segurança europeia posterior. O que interessa agora é estancar a escalada da violência, cessando as hostilidades. Há exemplos dessa espécie de paz imperfeita:recorde-se que ainda não existe um tratado de paz entre as duas Coreias, apesar do fim dos combates em 1953; os Montes Golã separa, desde 1973, dois países, Israel e Síria, tecnicamente ainda em estado de guerra.”

Francisco Ramalho

Publicado hoje no jornal "O Setubalense"




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